terça-feira, fevereiro 13, 2007

Já não há muitos lugares assim.




Hoje almocei no meio de muitos linguajares, estilos, de gente bonita, de hoje e de ontem. O restaurante é também uma pastelaria que nos permite regressar ao passado, embora o serviço seja requintado e de hoje. Os empregados conhecem-nos e aos nossos gostos. Ao meu lado falava-se castelhano( quatro senhoras bonitas no avanço da sua idade, todas aprimoradas nas vestes e pinturas) , mais à frente, desfilavam, entre o vaivém dos empregados, trajados a rigor, outras linguas e gente de todas as idades e profissões.
A Versailles é um dos meus lugares preferidos para lanchar, para almoçar ou simplesmente para um encontro de trabalho.
Comecei a frequentar a Versailles pela mão de ilustre advogado, faz muitos anos (aquelas amizades que o tempo faz desaparecer sem sabermos porquê). Aos sábados tomávamos o pequeno-almoço num mesa onde, de vez em quando, estava Tomás Taveira. Noutros dias, comungavamos a sala com anónimos ou ilustres figuras como José Lamego, Mega Ferreira, Troufa Real,ex-ministros ou ministros, a Lisboa de que se falava ou viria a falar.
Versailles, um lugar com charme, tal como o Golden Gate no Funchal, a Garrett, no Estoril, e outros locais da minha memória.

Talhante, ou talvez não.


Ontem estive nas urgências de um Hospital de Lisboa e, ao passar uma porta de entrada de serviço, lateral, deparo com um português típico, obeso, sentado num canto exterior, agarrado a um tripé de onde pendia um saco com o soro que lhe era ministrado. Na outra mão fumegava um cigarro de onde ele retirava goladas de fumo e passas vigorosas. O médico que me acompanhava, antes que eu dissesse alguma coisa, logo me atira categoricamente:
_ é a nova forma de tratamento do enfarte e de desintoxicação.
Acompanho o meu amigo e, enquanto ele aguarda os resultados das análises ao sangue, dirijo-me ao refeitório do hospital, onde vou tomar uma refeição.
Qual não é o meu espanto quando vejo entrar a figura de talhante, estivador, taxista bronco, tasqueiro, lutador de boxe desmazelado e gordo - qualquer uma destas tipologias se lhe aplica - de cigarro na mão, com calças de pijama, que se senta na mesa atrás de mim.
Meto conversa com a criatura e logo ela me explica:
_ A gaja drogou-me. Só acordei no hospital depois de ter ido para casa sem saber como.
_ Oh amigo, mas como foi isso?
_ Mas eu sou batido, fui comando e da polícia do exército, e fui cair nesta... A gaja meteu-me comprimidos no copo, eu adormeci, e gamou-me o fio, a carteira está aqui porque estava no carro.
_ E agora?
_ Agora vou lá apanhá-la e levá-la a dar um passeio ao Guincho. Vai aprender. Vou parti-la toda. _ Não faça isso homem.
_ Eu fui comando... vou partir-lhe aquela tromba toda.
_ Mas você fuma ali no hospital ao mesmo tempo que recebe o soro...
_ Oh meu amigo, há mais de dez anos que venho a este hospital. Já me conhecem todos, infelizmente. Sou cliente.
_ Entra uma médica que lhe interrompe a colherada de sopa e diz:
_ Ó senhor, andam à sua procura. O meu colega e a enfermeira procuram-no.
_ Já lá vou. Já lá vou.
_ Entretanto senta-se a filha à frente, que ouviu parte da conversa e logo explica:_ eu já não vou em cantigas, nas discotecas levo sempre o copo comigo, mesmo quando vou à casa de banho, ou tapo-o sempre com a mão.
Estas idas ao hospital tiram-me sempre do sério. E no meio da desgraça e da doença sempre me rio.
Ele, o talhante, lá continuou no seu percurso para o avc, cigarro atrás de cigarro, preparando-se para tratar da menina de Corroios. Ele que nunca queria saber de brasileiras. Afinal já estava a ficar com dúvidas.

domingo, fevereiro 11, 2007

O gesto de Sampaio. Humildade democrática e social.








Jorge Sampaio sempre me inspirou admiração, pelo seu estilo contido na pompa, mas cheio de energia e emotividade naquilo que dizia, no que fazia e que defendia. Não era o expoente máximo da simpatia, mas, simultâneamente, acumulava qualidades de democrata, de homem educado e de político determinado. Hoje, no dia de referendum sobre a Interupção Voluntária da Gravidez, ele presidiu a uma mesa de voto, colocando-se na situação de um simples cidadão que cumpre os seus deveres cívicos. Um gesto que valeu mais que mil discursos sobre os deveres cívicos, a participação, a humildade democrática.
Parabéns Senhor Presidente Sampaio.

sábado, fevereiro 10, 2007

AL Gore em Portugal




1 Tudo o que ele disse já é uma evidência, de há muitos anos, que reincidimos em querer não compreender;
2 Chegou o tempo de mudarmos de vida ou de assistir à vida a desaparecer, numa caminhada apressada e penosa, em crescendo, suicidando-nos ou acabando com a vida na Terra.
3 As soluções possíveis já estão à vista, é uma questão de pararmos, de obrigarmos os nossos governantes a pararem e começarmos a utilizar as soluções alternativas de estilos de vida.
4 Como não há soluções perfeitas, há que mudar as escalas e padrões politica e socialmente correctos de bem estar e de riqueza para que esta se redistribua mais equitativamente por todo o Planeta.
5 Sem hipocrisias, sem duplos critérios, sem ilhas de excepção, temos de combater:

- a falta de liberdade em qualquer parte do mundo;
-a poluição;
- os lucros fáceis resultantes da guerra, da corrupção, do contrabando e exploração iegal de riquezas naturais;

Temos de compreender que os fins não justificam todos os meios e que novos padrões de bem-estar devem ser incutidos:

Vida saudável;
Cidadania;
Liberdade pessoal e colectiva em todo o Mundo;
Responsabilidade;
Educação de elite para todos
Emprego, escola, saúde, infância e velhice protegidas para todos.
Transparência
.../...

Mas que utopia a minha.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

A reivindicação de direitos obriga ao exercício dos deveres civicos.

É uma verdade óbvia, que os cidadãos devem ter presente antes de exigirem os seus direitos. Em democracia cabe aos cidadãos participarem, exprimindo a sua opinião, exercendo os direitos de voto em eleições ou referendos, ou simplesmente participando no bairro, na freguesia, no municipio, na sociedade civil, nas diferentes formas de exercício da cidadania. Cidadão que não exerce os seus direitos cívicos, votando ou votando branco ou nulo, conspira contra o melhor dos sistemas possíveis existente a até hoje, que é o democrático.
Seria bom que todo o cidadão, na vida pública ou privada, desenvolvesse a sua participação para tornar a sociedade mais justa e a democracia mais eficaz para todos.
É ilegitimo reivindicar sem participar.
O mero exercício reivindicativo de direitos pode ser ilegítimo se não for acompanhado do exercício dos deveres de bom cidadão.

domingo, fevereiro 04, 2007

Voto SIM.


Eu voto SIM. Voto pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez. Entendo que, salvo raras excepções, é uma decisão que marca os progenitores ou a progenitora para a vida. Mas a vitória do SIM só valerá se o sistema de saúde conceder a todos, sem excepção, o apoio e as condições para que a gravidez ou a sua interrupção decorram dentro das condições de civilidade e apoio humano. Mas há um trabalho que ultrapassa o sistema de saúde, que é social e que tem a ver com a criação de condições para que ninguém aborte por razões económicas ou por falta de apoio à gravidez, à maternidade e à infância. Isto reduziria os casos de aborto a questões patológicas, de natureza clínica ou aos casos de desvios sociais do foro criminal. De facto, com estas condições criadas, só motivos ponderosos levariam à prática do aborto. Há um factor relevante, que se prende com a educação religiosa de uma parte da população e que dá lugar a sentimentos de culpa.
Com estes desejos, Voto SIM.

Inutilidades. Adiante.


Não percebo o alarido por causa do que disse o Ministro Pinho. Dizer na China que os ordenados portugueses são baixos é uma normalidade. Dizer na China que ganhamos pouco, é um não dizer, uma inutilidade. Criticar Pinho por dizê-lo, é uma falsidade, pois Pinho disse a verdade do País que somos e do que ganhamos.
O que vem a seguir é escusado, um desperdício de energia.
O importate é perceber porque ganhamos pouco?
Ganhamos pouco porque vendemos pouco, produzimos pouco, acrescentamos pouco valor ao pouco que fazemos. E isso sucede porque somos mal qualificados desde que nascemos até que morremos. Escrevemos, falamos, marramos às toneladas. Quando confrontados com o mundo global esbarramos com a nossa insignificância. É assim mesmo.
Fomos à China vender produtos e cimentar parcerias? Se sim, de nada serve explicar ao chinês o que ganhamos. Se lá fomos captar empresas, o que ganhamos pouco importa para atrair empresas chinesas e chineses.
Para muito deles, aos milhões, uma malga de arroz é a salvação. Para os poucos a quem interessa a Europa, as contas já estão feitas e sabidas.
Concentremo-nos no que interessa, inventar, produzir, comercializar, intermediar qualquer coisa que uns milhões de chineses consumam regularmente e assim gerem receitas para portugueses.