terça-feira, dezembro 13, 2005

Silêncio, que vem aí uma sondagem


Perceber o que pensam os cidadãos é a suprema ambição dos políticos. É um exercício que interessa a jornalistas, a académicos, a empresários e a todos nós, cidadãos.
Uma sondagem é uma fotografia instantânea. Ela apenas responde às perguntas que fizemos, no passado, a um determinado número de pessoas, seleccionadas segundo critérios previamente definidos. Quando vamos ao médico-analista fazer análises ele não nos retira o sangue todo do organismo para analisar o estado da nossa saúde. Os especialistas em sondagens também só retiram uma amostra a todo o universo em estudo. Falar em tempo útil com todos seria quase impossível, por questões financeiras, técnicas, e um esforço desnecessário.

E aqui começam os cuidados e os problemas.

Damos por adquirido que a entidade que realiza os estudos é credível e competente.

A amostra seleccionada tem de dar garantias de ser representativa da totalidade do universo em estudo. O número de pessoas incluídas na amostra deve ser definido em função do grau de certeza e fiabilidade que pretendemos obter nos resultados. As pessoas sondadas devem ser escolhidas para que no seu conjunto a amostra espelhe a realidade do todo, permitindo, depois, considerarmos que as conclusões do estudo se aplicam ao universo em análise. Poderemos estar a falar de uma amostra representativa de cidadãos eleitores, de jovens, de mulheres, de desempregados que vivem em Portugal, nos Açores ou num determinado concelho. O correcto conhecimento do universo em estudo e a composição da amostra é um factor crucial para levarmos a sério uma sondagem. Por outro lado, as metodologias de recolha das opiniões também devem ser ditadas de acordo com as características do universo: podemos ouvi-las por telefone fixo ou por inquérito presencial. São escolhas que têm implicações a vários níveis.


O momento supremo de uma sondagem é o do seu conhecimento público, mais ou menos alargado. Entramos numa fase em que todo o cuidado é pouco na análise e utilização dos resultados de uma sondagem. Temos de ter sempre presente que a sondagem retrata o passado, que os seus resultados apenas demonstram, com determinado grau de probabilidade, o que pensavam sobre as questões propostas os inquiridos e que não encerram nenhuma verdade absoluta e acima de tudo imutável.
É legítimo tirar tendências de um conjunto de estudos. Podemos tentar perceber motivações e anseios das populações. Podemos até saber o grau de satisfação dos cidadãos. A nossa experiência até nos pode levar a dizer que as tendências e motivações dos cidadãos estão consolidadas num intervalo minímo de oscilação.

Muitas vezes ouvimos dizer que há quem manipule as sondagens para influenciar os cidadãos. É uma insensatez e uma inutilidade. Primeiro, porque vivemos num mercado concorrencial. Depois, porque prejudica a reputação de quem o faz e, por último, segundo estudos existentes, porque a eventual vantagem da manipulação não existe.

Perante os resultados de uma sondagem devemos colocar algumas interrogações: Quem é o dono da sondagem? Quem realizou a sondagem? Qual o universo em estudo? Qual a amostra? Qual a margem de erro? Nível de confiança? Quando foi feita? De que modo? Temos de olhar e perceber a ficha técnica.

Dizer que a força política “A” tem 43,1 % de intenção de voto e que outra, “B”, terá 26,0%, e que a abstenção é de 40,3 %, apenas pode e deverá ser entendido que no passado dia tal, do mês tal, e para uma margem de erro de, por exemplo, 3%, a força política “A” poderia colher dos portugueses uma votação situada entre 40,1% e 46,1% e a força “B”, uma votação situada entre 23,0% e 29,0%. Este mesmo facto também torna erróneo dizer-se que A ou B desceram ou subiram 2%, de ontem para hoje, pois andamos num intervalo de 6% de variação. O mesmo para a abstenção. Mas desde que os resultados são produzido muita água corre e as coisas poderão ter mudado. Cabe aos líderes agirem para afirmar ou infirmar as tendências.

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