Há um problema de comunicação com o Governo
Terminaram as eleições autárquicas. Nada de novo e de especial a assinalar. Confirmaram-se as previsões de maus resultados para o Partido Socialista, as excepções confirmam e não infirmaram os prognósticos. A CDU resistiu bem e a moda Bloco de Esquerda continua aí, atraindo o voto de protesto, da diferença, de quadrantes diferenciados da população. Esta situação vai manter-se enquanto os partidos tradicionais, mais velhos, não encontrarem formas adequadas de comunicar com estas franjas de eleitorado. O PSD, numa análise global, é o grande vencedor! Desta vitória não vem mal algum a Portugal, antes pelo contrário.
Os fenómenos desta campanha também não espantam. A forte ligação emocional dos candidatos-com-problemas às populações dos seus concelhos, o oportuno abandono a que foram votados pelos partidos que os albergaram durante anos e anos, partidos que os colocaram em montras e em lugares de destaque, gerou um sentimento transversal de apoio por parte de grande parte do eleitorado desses concelhos, dando-lhes vitórias. A lição que fica é que ninguém pode ser transformado em besta, depois de ter sido tantos anos bestial. O mesmo sucederia a Alberto João Jardim se um novo líder, repentinamente o quisesse afastar das lides políticas. O princípio da coerência é fundamental para percebermos estes fenómenos. Apenas um falhou o objectivo. E falhou também por não ter sido coerente e ter ido para território desconhecido, a que se juntou, de forma visível, uma grande força opositora das elites, da opinião publicada e da imprensa.
Resta-me introduzir aqui a questão comunicacional ao nível do Governo. Penso que é unânime a opinião de que o Governo e o Eng.º Sócrates mantiveram a coragem e determinação de continuarem as cortar a direito, a tomar medidas duras contra privilégios, mesmo durante a campanha eleitoral. Não cedeu aos interesses partidários. Justiça lhe seja feita. Senti na pele dos meus clientes do PS os efeitos da sua determinação.
Mas o que importa, no que diz respeito à comunicação com os cidadãos, é deixar bem claro que este Governo está a falhar na comunicação com os portugueses. Sócrates tem de explicar muito bem a razão das suas medidas, as mordomias que está a colocar em causa e a tentar acabar, e os benefícios para todos os portugueses das suas políticas. Não o tem feito bem.
Ninguém percebe ao certo, a não ser ele, o Ministro e a sua equipa, e mais meia dúzia de bem informados, porque há uma guerra aberta contra o Governo no sector da Justiça. Ninguém percebe bem porque os funcionários públicos, os professores e outras classes profissionais se sentem ameaçados. Ninguém percebe bem, de forma clara, porque se mexe no tempo das reformas. Não, Senhor primeiro-ministro, o senhor que até fala claro, não está a conseguir falar claro. O ensino de uma criança não passa apenas pela reguada, e quando há reguada há-de chegar o tempo de fazer perceber a razão do sofrimento. Caso contrário a reguada reiterada, sem percepção do objectivo, levará a um comportamento desviante.
O Governo tem ainda todo o tempo do mundo para iniciar um diálogo mais esclarecedor com os cidadãos, apontando-lhes o ponto de chegada e fazendo luz sobre o futuro.
E já agora, pense como vai descalçar a bota das presidenciais em termos comunicacionais. As candidaturas presidências até são candidaturas de pessoas e não de partidos, facto que lhe pode facilitar a vida. Em termos comunicacionais, bem entendidos. Não gostava de estar na pele do político José Sócrates, pois nesse plano as coisas vão ser mais complicadas.
Mas os grandes políticos revelam-se nas dificuldades e nas soluções que encontram para as superar.
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