terça-feira, dezembro 13, 2005

Podem cair vacas do céu


Autárquicas 2005

Começa a ficar claro que estas autárquicas podem não correr muito bem ao Partido Socialista. Não tenho dúvidas de que são um patamar, ainda que não decisivo, para
a afirmação da liderança de Marques Mendes. A CDU terá de fazer das tripas coração para estancar o voto útil no PS em algumas localidades e manter a chama acendida por Jerónimo de Sousa. O Bloco de Esquerda continuará a sua progressão ascendente, atraindo jovens e algumas franjas urbanas. O CDS/PP marcará presença. O Governo continuará a governar, sem poder pensar no problema dos seus correligionários de partido que concorrem às autárquicas. O sentido de Estado e a situação do País não se compadecem com cedências eleitoralistas, e os portugueses não perdoariam a Sócrates.

Para além dos erros óbvios e evidentes já cometidos pelo Partido Socialista na escolha de alguns candidatos, alguns deles de palmatória, e irremediáveis do meu ponto de vista, resta agora aos partidos a boa ou má gestão das expectativas.

Quem perder Lisboa, Porto e Coimbra dificilmente conseguirá afirmar uma vitória, ainda que tenha mais votos. Esta realidade será mais dura para o PS. Já Marques Mendes tem maior campo de manobra: pode ganhar, ganhando as principais cidades, e pode ganhar, garantindo o maior número de câmaras e a liderança da Associação Nacional de Municípios.

A gestão das expectativas é o trunfo para maximizar bons resultados ou para minimizar os possíveis estragos eleitorais. E é neste particular que não se percebe como o PS ainda não conseguiu encontrar um caminho mobilizador para as autárquicas, principalmente nos principais símbolos eleitorais. A noite eleitoral vai ter vários vencedores, se houver uma boa gestão de objectivos e expectativas.

Enquanto nos Açores, em Ponta Delgada, Berta Cabral poderá continuar a sua caminhada de forma descansada; já na Madeira, o Funchal será palco de mais um teste à consolidação ou não de uma alternativa ao poder de Alberto João Jardim. Veremos.

Agora, não dá para entender como é que o PS, com uma direcção forte, não conseguiu influenciar a ida de pesos pesados, de políticos capazes, para as candidaturas de algumas câmaras vitais. Causa alguma estranheza. Falo de Oeiras, de Cascais, de Ponta Delgada. Como não se entende que tendo o PS, à partida, garantida a vitória em Lisboa e no Porto, com a escolha inadequada de candidatos, tenha entregue os pontos ao adversário, facilitando-lhes a vida.
Resta estar atento ao embate eleitoral que vai ocorrer em terras do Alentejo, onde PS e CDU vão disputar de forma acesa alguns bastiões dos comunistas. Ali, o voto útil pode ceifar algumas câmaras à CDU, não obstante o trabalho meritório de algumas equipas daquela coligação.

Depois das eleições autárquicas, se o PSD passar o teste, Cavaco Silva continuará a sua caminhada para as Presidenciais, inexplicavelmente sem a oposição credível de um candidato da área do PS, que mais uma vez parece estar de braços caídos, permitindo com a vitória de Cavaco Silva, que Marques Mendes se afirme como uma verdadeira alternativa ao poder socialista.

Realmente há comportamentos que contrariam a lógica normal das coisas. Mas há sempre um lado positivo quando as coisas não correm bem para um dos lados: o País tem um Governo com todas as condições para durar a legislatura, o PSD não merece sofrer novo revés eleitoral e ficar mais fraco, sob pena de não termos uma oposição com ânimo para construir uma alternativa no seu devido tempo. E nunca podemos esquecer que estamos a falar de diferentes planos de combate político nas autárquicas, nas presidenciais e nas legislativas.
Há dias e tempos assim, de mentes confusas e má sorte, como os que passa o PS em tempo de autárquicas. Que o diga uma amiga dos Açores, que, atónita, viu aterrar uma vaca em cima do seu carro quando, descansada, conduzia a sua viatura, e, como se não bastasse, perdeu o telemóvel numa pastagem, durante o Rallye dos Açores. Lado positivo, o dito não ter começado a tocar na pança do bovino, e ter sido devolvido por um simpático agricultor, para que ela regressasse ao stress da sociedade da informação.

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