terça-feira, dezembro 13, 2005

Alô… Quem fala?

Estou em Nova Iorque, telefono para uma companhia aérea e faço a reserva das passagens, pagando-as com o cartão de crédito. Do lado de lá atende-me uma simpática voz de senhora que percebo ter idade avançada. Tratou rapidamente de corresponder ao meu pedido. Quando me dirigia para o aeroporto paro num McDonald’s, entro no “drive-in”, e sou atendido por uma central telefónica onde uma voz jovial recebe o meu pedido. Mais à frente recebo a comida e as bebidas pedidas, sem demora. Distribuída a comida às crianças dentro do carro, arranco para o aeroporto, perdendo-me no caminho. Ligo para as informações de trânsito e peço ajuda. Um jovem simpático, com um sotaque característico, ajuda-me a encontrar o caminho certo. Chegado ao aeroporto, enquanto espero pela hora de embarque, falo com o meu contabilista em Portugal sobre o preenchimento de formulários fiscais. Acertamos os pormenores e ele fica de me enviar os mesmos documentos contabilísticos no dia seguinte, tarefa que solicita a um seu colaborador via e-mail.
Cheguei finalmente ao meu primeiro destino, Madrid, mas uma das minhas malas não chega. Ligo, aflito para a assistência, onde uma jovem me atende e pede os dados informativos. Estranho mais uma vez o ligeiro sotaque, mas ela consegue ajudar-me e informa-me que a mala foi extraviada, mas que será entregue no Hotel.
O que há de novo nestes procedimentos normais? Apenas o facto da minha reserva ter sido feita por uma simpática dona de casa americana, reformada, a trabalhar no seu escritório em casa, no estado de Utah. Simplesmente o facto do pedido das refeições do restaurante ter sido processado por uma jovem a alguns quilómetros do restaurante. Unicamente porque o auxílio de trânsito me foi prestado por um jovem indiano, a trabalhar na Índia. Somente porque o preenchimento burocrático dos meus impressos contabilísticos estarem a ser feitos por um colaborador indiano, a trabalhar em Bangalore, na Índia, ficando o meu consultor financeiro com mais tempo para lidar com os clientes e acrescentar valor à sua prestação de serviços. Porque, a mala extraviada foi resgatada e reencaminhada para a minha posse por uma simpática jovem indiana contratada pela companhia aérea, mas a trabalhar na Índia. E o mesmo se poderia suceder se um atelier de arquitectura japonês subcontratasse o desenho técnico de esquiços de uma moradia a arquitectos ou desenhadores técnicos chineses e recebesse os mesmos, no prazo combinado, no regresso do mail, por Internet.
Esta ficção que recriei já é a realidade para muitos cidadãos. Pois é, este mundo está a virar-se de pernas para o ar. Nada é como era. A queda do muro de Berlim e dos vários muros, a introdução dos PC e da Internet, a digitalização e as auto-estradas de alta velocidade criadas com as fibras ópticas permitem a desmaterialização e a deslocalização dos processos produtivos de produtos e serviços para onde se possa fazer bem, diria igual, rápido e barato.
Nesta encruzilhada em que nos encontramos como podem os países e a regiões ultraperiféricas encontrar um ponto de apoio na plataforma comum da sociedade global?
É um desafio. É sim. Mas pode ser uma oportunidade magistral se percebermos a essência da nova economia, se percebermos em que fase dos processos produtivos da sociedade do conhecimento poderemos intervir com valor acrescentado para quem compra e benefícios para quem presta.
É um admirável mundo novo que se abre. Um mundo que em breve, amanhã, melhor, hoje, terá de encontrar novas formas de funcionamento da economia sem petróleo – há quem vaticine o fim das reservas a 40-50 anos – com escassez de água potável. Um cocktail que abrirá novos paradigmas económicos, políticos e sociais.
Precisamos de um choque, de energia, que nos faça engrenar de vez neste mundo complexo mas mais aberto e dialogante. Numa próxima crónica voltarei ao tema, mas numa perspectiva de desenvolvimento pessoal. Entretanto, se puderem leiam: “O Mundo é Plano. Uma história breve do século XXI, de Thomas L. Friedman. E compreendam como é o futuro.

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