terça-feira, dezembro 13, 2005

Ele é fixe, tem bom gene.


O que está dar é ter bom gene. E os portugueses de génio já lhe fizeram jus quando lançaram caravelas, desbravaram mares e encontraram terras e povos. Foram os genes, o engenho e o génio a trabalhar em conjunto, a interagirem, que permitiram tal coisa.
Mas, no presente, temos também, novos descobridores, novos viajantes, que sulcam mares de futuro e de modernidade. São portugueses sim senhor. Navegam espaços contidos na imensidão de um código genético e procuram explicações para a vida, para os comportamentos, para as doenças, para o bom desempenho do homem. É uma nova fronteira do conhecimento, que alicia mas ao mesmo tempo desafia e arrepia. A genética e o estudo dos genes pode ajudar-nos a fortalecer a cidadania, a ultrapassarmos alguns dos nossos obstáculos ao salto em frente.

Vejamos o que retive da lição que o Professor Carolino Monteiro transmitiu, esta semana, na tertúlia de amigos do Clube Lusitânia.

Cuidado com as noções simplistas de Liberdade e de Igualdade. Meter 28 alunos, crianças, numa sala de aulas e ensinar-lhes exactamente a mesma coisa, ao mesmo tempo, com a mesma metodologia, exigindo padrões de resultado iguais, é uma falsa igualdade. O estudo da combinação genética demonstra que uns apreendem mais depressa que outros, que outros memorizam mais facilmente que uns e, por aí fora, outros falam e exprimem-se mais facilmente que os seus colegas. O mesmo se poderia aplicar para outras aptidões como a resistência à doença, a destreza manual.
Isto significa que o primeiro absurdo é haver um professor para 28 alunos. O segundo, é nivelar todos pelo padrão de aprendizagem instituído. A lição que o professor tira de genética aplicada à cidadania é que chegou a altura de adequar o ensino e a avaliação ao destinatário, se visarmos o aperfeiçoamento de cada um. E deu o exemplo das turmas de 9 crianças na Dinamarca, e que têm dentista na escola. Por tanto, todos iguais, todos diferentes.

Mas, Carolino Monteiro, explica que a genética também nos alerta para o facto de que a mesma aspirina não ser sempre a solução ideal para a cura de uma dor de cabeça em todas as pessoas. Cada ser humano tem capacidades e necessidades de doses diferentes da mesma aspirina. Os genes e o organismo são os culpados da situação.

Isto quer dizer que entrámos no patamar da qualidade, em que a imaginação terá de conciliar o exequível para servir 10 milhões de portugueses, sem esquecer que cada português tem uma especificidade própria, que tem de ser potenciada.

Já agora, a genética permite-nos perceber o impacto dos movimentos migratórios dos povos e a herança genética que fica. Porque nascem novamente crianças com sífilis em Portugal? Qual o impacto do facto de na Costa da Caparica já existirem cerca de 6000 brasileiros? Que em determinada localidade do Japão, nascem crianças com uma doença oriunda de determinada região de Portugal, quando afinal só lá viveu um padre jesuíta.
Estamos a falar de multiculturalidade e diversidade, e das respostas que as políticas têm de saber dar a pessoas tão diversas, que carregam heranças genéticas tão diversificadas, por forma a tiramos o maior rendimento e bem estar da cada individuo.
O perigo é se o génio pensa que o paraíso está ali ao virar da esquina e que, com alguns toques genéticos julgamos poder criar super-homens, mais aptos e resistentes para determinadas actividades.
A vida é um bela sinfonia. A orquestra tem de ser observada com cuidado para que as afinações pretendidas não nos levem ao inferno em vez de aumentarem a qualidade de vida de todos nós. A utopia da raça pura. Onde está ela? A miragem de conquistar a vida eterna levam-nos para a linha de uma nova fronteira. Mas a necessidade de aperfeiçoar o homem. A obrigação de combater as desigualdades que resultam da doença e da fome obrigam-nos a agir depressa.
E Carolino Monteiro inverte os termos e diz que o combate da pobreza começa na prevenção da doença e na acção sobre a saúde das pessoas. Boa saúde induz melhor aproveitamento a todos os níveis e o bom desempenho propicia resultados conducentes à diminuição da pobreza.

É claro que aos políticos cabe integrar estes conhecimentos, criar as condições de comunicação inter-ciências, para que, hoje já, estes conhecimentos melhorem a nossa qualidade de vida. E já agora, parte do conhecimento mais avançado sobre esta matéria está na posse de portugueses, cidadãos do mundo. Será que Portugal sabe disso?
Ainda falta mais um choque em Portugal. O choque genético.
Já agora, quando lhe disserem que é um nabo, ou que é burro, não se ofenda, pois não é totalmente mentira, atendendo ao património genético que temos em comum.

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