Ando de cabeça perdida
Por razões de ofício vou contactando pelo País fora com diversos políticos, de diversas formações partidárias. As eleições autárquicas estão à porta, as máquinas começam a aquecer os motores, as apresentações de candidatos vão-se sucedendo.
_Ó meu amigo, estamos prontos para trabalhar e começar a campanha_ afirmam uns, decididos.
Muito bem_ respondo eu.
_ Sabe, já tenho umas fotografias tiradas e podemos começar_ dizem-me eles, convictos.
Ainda bem_ respondo eu.
_Mas diga-me lá uma coisa: em que ponto estamos nós?
_ Está tudo pronto, já tenho as fotografias.
_ E o diagnóstico?
_ O quê?
_ Já temos uma frase e umas pessoas amigas, um rapaz e uma rapariga com muito jeitinho para desenhar, fizeram o meu primeiro cartaz.
(Ainda pensei em agradecer a reunião, levantar-me e ir embora…mas voltei à carga)
_ Pois muito bem… Mas diga-me lá, já fizeram o diagnóstico da situação? Há algum estudo de opinião.
_ Ainda não está pronto mas está a ser feito.
_ Olhe caro amigo, não seria melhor aguardar mais uns dias pelo resultado das sondagens para fazer depois a estratégia e os cartazes em conformidade?
_Pois é?
_Já percebi, passemos à frente. Corrigiremos a situação mais à frente. Já agora vamos tomar algumas medidas e minimizar algum eventual efeito negativo do cartaz.
Outra história.
Antes do fim do ano fui chamado a uma reunião com o presidente de uma câmara no Norte do País para avaliar o potencial da sua recandidatura. Marcada a reunião, vencida a batalha do diagnóstico, tirada a ferros a sondagem, analisada a imprensa, conhecido o terreno, o potencial cliente e a força política que representava estava à frente na sondagem.
Ele lá fez um esforço e recebeu-me no seu gabinete, explicando-me que tem feito umas coisas de comunicação: um site na Internet, uma revista super luxuosa, quase erudita.
Adverti-o para o perigo da candidatura que se perfilhava como opositora. Mediática, populista, com todos os ingredientes para chamar a atenção dos cidadãos habituados há 30 anos a ver a cara do actual presidente.
A receita foi simples: antecipe-se, fixe o seu eleitorado, lidere a comunicação, comece já e aproveite a época natalícia para iniciar o contacto com os seus eleitores.
O tempo passou, nada feito, a não ser a apropriação pelo seu assessor de uma ideia deixada no ar, mas que aplicada de forma desgarrada de nada serve. E a realidade entretanto mudou. O adversário hoje está a liderar isolado os estudos de opinião e paralisou os adversários, quer na oposição quer no poder.
É assim a realidade dos nossos políticos, sejam eles autarcas experimentados, sejam ex-ministros, sejam novatos, independentemente dos partidos que representam.
A nossa classe política ainda não percebeu que a comunicação política é um instrumento continuado de diálogo entre governantes e governados.
Mas há alguns sinais positivos de mudança de atitude. Participei nas últimas semanas na formação de jovens políticos em gestão autárquica, com sessões intensas, de quatro horas por módulo, que abordaram gestão urbanística, gestão financeira, marketing e comunicação política, entre outras matérias. Foi ministrada por mim e por professores da Universidade de Coimbra, sob a égide da Fundação Bissaya Barreto. Foram dois dias, de manhã à noite, bastante intensos. As turmas estavam repletas do princípio ao fim, com cerca de 100 assistentes.
Disse-lhes que este era um passo importante para a sua formação política. Lembrei-lhes que quanto mais preparados estivessem maior vantagem teriam em relação aos seus concorrentes. E caracterizei-os como uma elite em formação, com ambição e necessidade de muito trabalho.
Para meu espanto, no encerramento, efectuado por um representante nacional da organização política, pertencente à nova geração de políticos em ascensão, uma mensagem mais dura e realista foi-lhes deixada.
_ Meus amigos, vocês têm de ser uma elite, têm de ter qualidade e devem aplicar-se nos estudos e na escola para serem os melhores. E, se numa mesma data tiverem uma acção política e um exame escolar, não hesitem, preparem-se, estudem, não vão à acção política e façam os exames. Quando chegar o momento nós escolheremos os melhores, os mais bem preparados e não aqueles que se arrastam simplesmente pelas sedes, pelos comícios. O partido e o País vão seleccionar os melhores.
Valha-nos este político que teve a coragem de não só fomentar a formação como de dizer, olhos nos olhos aos jovens políticos, que o cartão de militante já não é um passaporte, por si só, para um futuro risonho na política.
E deixei-lhes a resposta de Mark Spitz, 55 anos, o maior nadador de todos os tempos, recordista de 6 medalhas de ouro obtidas numa só Olimpíada, em Munique, 1972, quando lhe perguntaram a razão do seu sucesso, numa entrevista publicada pela VISÃO:
“Sempre tive grandes treinadores. Foram eles que soltaram o meu talento. Depois, eu tinha um desejo dos diabos de ganhar!
Trabalhava que me fartava.”
_Ó meu amigo, estamos prontos para trabalhar e começar a campanha_ afirmam uns, decididos.
Muito bem_ respondo eu.
_ Sabe, já tenho umas fotografias tiradas e podemos começar_ dizem-me eles, convictos.
Ainda bem_ respondo eu.
_Mas diga-me lá uma coisa: em que ponto estamos nós?
_ Está tudo pronto, já tenho as fotografias.
_ E o diagnóstico?
_ O quê?
_ Já temos uma frase e umas pessoas amigas, um rapaz e uma rapariga com muito jeitinho para desenhar, fizeram o meu primeiro cartaz.
(Ainda pensei em agradecer a reunião, levantar-me e ir embora…mas voltei à carga)
_ Pois muito bem… Mas diga-me lá, já fizeram o diagnóstico da situação? Há algum estudo de opinião.
_ Ainda não está pronto mas está a ser feito.
_ Olhe caro amigo, não seria melhor aguardar mais uns dias pelo resultado das sondagens para fazer depois a estratégia e os cartazes em conformidade?
_Pois é?
_Já percebi, passemos à frente. Corrigiremos a situação mais à frente. Já agora vamos tomar algumas medidas e minimizar algum eventual efeito negativo do cartaz.
Outra história.
Antes do fim do ano fui chamado a uma reunião com o presidente de uma câmara no Norte do País para avaliar o potencial da sua recandidatura. Marcada a reunião, vencida a batalha do diagnóstico, tirada a ferros a sondagem, analisada a imprensa, conhecido o terreno, o potencial cliente e a força política que representava estava à frente na sondagem.
Ele lá fez um esforço e recebeu-me no seu gabinete, explicando-me que tem feito umas coisas de comunicação: um site na Internet, uma revista super luxuosa, quase erudita.
Adverti-o para o perigo da candidatura que se perfilhava como opositora. Mediática, populista, com todos os ingredientes para chamar a atenção dos cidadãos habituados há 30 anos a ver a cara do actual presidente.
A receita foi simples: antecipe-se, fixe o seu eleitorado, lidere a comunicação, comece já e aproveite a época natalícia para iniciar o contacto com os seus eleitores.
O tempo passou, nada feito, a não ser a apropriação pelo seu assessor de uma ideia deixada no ar, mas que aplicada de forma desgarrada de nada serve. E a realidade entretanto mudou. O adversário hoje está a liderar isolado os estudos de opinião e paralisou os adversários, quer na oposição quer no poder.
É assim a realidade dos nossos políticos, sejam eles autarcas experimentados, sejam ex-ministros, sejam novatos, independentemente dos partidos que representam.
A nossa classe política ainda não percebeu que a comunicação política é um instrumento continuado de diálogo entre governantes e governados.
Mas há alguns sinais positivos de mudança de atitude. Participei nas últimas semanas na formação de jovens políticos em gestão autárquica, com sessões intensas, de quatro horas por módulo, que abordaram gestão urbanística, gestão financeira, marketing e comunicação política, entre outras matérias. Foi ministrada por mim e por professores da Universidade de Coimbra, sob a égide da Fundação Bissaya Barreto. Foram dois dias, de manhã à noite, bastante intensos. As turmas estavam repletas do princípio ao fim, com cerca de 100 assistentes.
Disse-lhes que este era um passo importante para a sua formação política. Lembrei-lhes que quanto mais preparados estivessem maior vantagem teriam em relação aos seus concorrentes. E caracterizei-os como uma elite em formação, com ambição e necessidade de muito trabalho.
Para meu espanto, no encerramento, efectuado por um representante nacional da organização política, pertencente à nova geração de políticos em ascensão, uma mensagem mais dura e realista foi-lhes deixada.
_ Meus amigos, vocês têm de ser uma elite, têm de ter qualidade e devem aplicar-se nos estudos e na escola para serem os melhores. E, se numa mesma data tiverem uma acção política e um exame escolar, não hesitem, preparem-se, estudem, não vão à acção política e façam os exames. Quando chegar o momento nós escolheremos os melhores, os mais bem preparados e não aqueles que se arrastam simplesmente pelas sedes, pelos comícios. O partido e o País vão seleccionar os melhores.
Valha-nos este político que teve a coragem de não só fomentar a formação como de dizer, olhos nos olhos aos jovens políticos, que o cartão de militante já não é um passaporte, por si só, para um futuro risonho na política.
E deixei-lhes a resposta de Mark Spitz, 55 anos, o maior nadador de todos os tempos, recordista de 6 medalhas de ouro obtidas numa só Olimpíada, em Munique, 1972, quando lhe perguntaram a razão do seu sucesso, numa entrevista publicada pela VISÃO:
“Sempre tive grandes treinadores. Foram eles que soltaram o meu talento. Depois, eu tinha um desejo dos diabos de ganhar!
Trabalhava que me fartava.”
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