terça-feira, dezembro 13, 2005

A culpa é do ruído, meus amigos.

Certo dia, o professor de matemática começa a sentir que a atenção dos seus alunos deixou de estar virada para o que dizia. Repara, então, que um pássaro entrara pela janela da sala de aula, a esvoaçar, ao mesmo tempo que chilreava assustadiço.
Há dias assisti a uma comunicação oficial e solene, em que o discurso do orador se foi entrecortando com pausas, o folhear de folhas e, para os que assistiam presencialmente ao acto, em que o calor fazia soçobrar alguns dos presentes, levando-os ao desmaio. Mais recentemente, outro orador, em sessão menos solene mas de grande importância, foi traído pela tecnologia e, corrigido o percalço, apareceu aos olhos dos telespectadores com dois insinuantes microfones colocados na lapela.

Por fim, e para descontrair, lembro-me de ver passar a Catarina Furtado junto de um grupo que olhava atentamente para um novo produto que estava a ser apresentado por um demonstrador. As atenções seguiram-na por tempo suficiente para fazer os presentes perderem o argumento fundamental para a compra do produto.

E, já agora, numa recente campanha eleitoral em que participei, um zeloso e profissional fotógrafo, para conseguir o melhor ângulo para a fotografia do seu experiente cliente, colocou-se ao seu lado, e ali foi ficando até receber, num quase imperceptível sinal de olhos do orador, a ordem para se afastar de cena. Obviamente.

A transmissão de um relato de futebol, em ecrã gigante, há mesma hora e em espaço contíguo ao local onde ocorria um comício também fez eriçar os cabelos da organização.

Este são exemplos de ruídos que podem prejudicar as comunicações e as mensagens, mesmo que estejam bem preparadas, possuam conteúdo e substância e tudo tenha sido feito para que a comunicação corra bem.

O pássaro, o chilrear, o folhear contínuo e descoordenado das páginas, o calor, os desmaios, a passagem da Catarina Furtado, a falha técnica, os microfones na lapela, a presença do diligente fotógrafo e o exultar da plateia no momento da goleada, são alguns ruídos indesejáveis.

É importante termos a noção deste fenómeno que tanto pode prejudicar a apresentação de uma ideia, de um projecto e deitar por terra o trabalho de muito tempo.

Por isso, se deve ter cuidado na escolha dos locais onde se fazem comunicações e eventos. Por isso, se deve ter cuidado com o que se veste. Por isso, se deve ter cuidado com quem se coloca ao nosso lado. Por isso, se deve escolher o período adequado para comunicar determinado tipo de coisas e não comunicar outras.

O Natal, tal como as férias, não é boa altura para mensagens políticas e o exercício da actividade política pura e dura. As campanhas eleitorais não são o momento mais adequado para promover algumas campanhas publicitárias. Um mercado de peixe não é local para discursos pesados e solenes, bem como um acto solene de tomada de posse não é momento para determinados actos de política.

O ruído também pode prejudicar as mensagens de um adversário. Vejamos um exemplo recente. Determinada força política vê-se obrigada a retirar cartazes de campanha porque um dos visados assim o obriga, introduzindo ruído na imagem de força que o cartaz pretendia transmitir. Claro que a reacção foi rápida e alguém, experimentado, tentou ainda tirar partido do ruído aguçando a curiosidade de alguns sobre o produto da polémica.


È uma matéria interessante, que deve ser ponderada e equacionada sempre que está em causa um programa de comunicação.


O ruído é aquele fenómeno, com múltiplas origens, formas e manifestações, que faz desviar as atenções do essencial e prejudica a boa compreensão de uma mensagem.

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