terça-feira, dezembro 13, 2005

A escolha é sua.

Certo dia, na antiguidade, Sócrates, o filósofo, acompanhava uma comitiva que visitava o estaleiro de uma obra. Este viu um homem vergado sobre um monte de pedras e perguntou-lhe: o que estás a fazer, meu amigo? O homem, com o semblante pesado e cabisbaixo, respondeu-lhe num tom seco e desanimado _ estou a partir pedra, meu senhor. A comitiva avançou e, mais à frente, Sócrates abeirou-se de um outro homem, um pouco mais enérgico e interessado, e repetiu a pergunta. A resposta, mais solta, veio de imediato _estou a fazer paralelepípedos. Muito bem, retorquiu o filósofo. Por fim, a comitiva acercou-se de um homem sorridente, que os cumprimentou a todos e que, entusiasmado, partia também pedra. Então, Sócrates, intrigado, lançou a pergunta sacramental: O que fazes? _ Estou a construir um monumento. Sócrates e a comitiva despediram-se do homem e lá foram ver o monumento que estava a ser erguido.
A lição que fica é que três homens que faziam a mesma tarefa, partir pedra, tinham um estado de espírito e de motivação diferente. Se para uns a sua tarefa diária era uma chatice, resumindo-se a partir pedra atrás de pedra, para outro o trabalho já fazia mais sentido e estava a transformar a pedra bruta em paralelos, dando-lhe forma. Por fim, o último, estava a participar na construção de um monumento, motivado, sabendo a finalidade do seu esforço.
Muitas vezes passamos os nossos dias a partir pedra, em tarefas que julgamos monótonas e sem sentido.
O que os portugueses precisam é de um projecto que lhes dê sentido à vida. Há um monumento que precisa de ser construído novamente, onde deve existir um lugar digno para todos e onde todos se sintam parte.
O sucesso dos projectos políticos reside na capacidade dos líderes conseguirem sintetizar essa ideia mobilizadora e envolverem todos os cidadãos, nas suas diversas ocupações e capacidades para a concretização de um projecto comum.
No meio empresarial diz-se que é preciso definir uma missão, em conjunto com os que integram a organização, e transmiti-la para dentro e para fora do território da empresa. Nas sociedades políticas, nos Estados, é necessário criar objectivos claros, um programa, uma bandeira, com princípios, objectivos, metas e benefícios que nos levem a todos a entrar no barco e a remar para o mesmo lado.
Mas não basta que exista apenas uma Missão. Nem são suficientes apenas um conjunto de políticas e objectivos claros. Há um trabalho diário, rigoroso, descendente e ascendente, de cima para baixo e de baixo para cima, que mantenha a equipa motivada e sem perder de vista o essencial: a construção do monumento.
É aqui, mais uma vez, que entra o papel instrumental da comunicação. Nas empresas comunicação interna e externa, dita comunicação empresarial. Nos Estados, a comunicação política, dirigida e adequada aos cidadãos: funcionários, utentes, políticos, eleitores, munícipes, fregueses.
E para que tudo funcione, tanto nas empresas como nas organizações políticas, os líderes têm de liderar, de dar o exemplo. Apenas se exige deles determinação, liderança e coerência entre o discurso e a acção.
Vamos lá senhor Sócrates - o primeiro-ministro - os portugueses estão de mangas arregaçadas. Até agora temos gostado de ouvir o seu silêncio. Mas não nos deixe adormecer.

Nota: Para Marques Mendes a tarefa é igualmente trabalhosa. Juntar e apanhar os cacos, colocá-los à porta da São Caetano, à Lapa, e, com uma nova equipa e novas ideias, construir um projecto para o PSD, que mobilize os social-democratas e consiga a médio prazo ganhar a confiança do País. O mesmo se passará, de forma mais ou menos genuína, com o CDS/PP. Veremos se Sócrates, Mendes, Jerónimo e Louçã conseguem, apesar de tudo o que os separa, colocar os portugueses a remar para o mesmo lado. Porque já chega de partir pedra.

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