terça-feira, dezembro 13, 2005

Temos de ganhar altitude

Gostaria que conseguíssemos voltar a olhar para a vida com alegria, com mais esperança e determinação. Que saltássemos do carril em que nos movemos e víssemos os nossos problemas de um novo ângulo, com uma nova perspectiva. Porque não vale de nada continuar a cavar um sulco maior na tentativa vã de andar para trás e para a frente, a repisar nos erros do passado. É que o passado já lá vai. É a história que nos serve para aprender e para nos dar ensinamentos para agarrar o futuro.

Todos conhecemos histórias de pessoas que pegaram em minas de ouro abandonadas, porque supostamente não davam para mais nada, e das escórias e do suposto lixo fizeram o ouro voltar a brilhar e ficaram bem na vida. Já ouvimos falar na história do homem que ia ao lixo dos hospitais recolher radiografias velhas e inutilizadas, transformando-as e extraindo a prata., criando um novo negócio.
Quem diria que o lixo das nossas casas e das cidades seria uma fonte de riqueza, um negócio e uma matéria-prima para a produção de energia, de adubos, apto para a reciclagem e transformação dos seus componentes em produtos úteis e valiosos?
E os exemplos poderiam estender-se a empresas que nada valiam nas mãos de uns e passaram a ser rentáveis nas mãos de outros.
Posso ainda referir as mudanças estratégicas operadas em alguns países nos últimos cinquenta anos e que demonstram que é possível encontrar sempre uma saída, um novo valor, uma nova maneira de encarar as adversidades na vida dos países.

Conhecendo as nossas características. Aceitando o País como ele é. O que falta fazer é encontrar na nossa condição e no País que somos aquilo que pode produzir valor acrescentado, emprego, competitividade, riqueza e bem-estar para todos os que nele vivem.

Feito o diagnóstico, conhecidas as causas dos estrangulamentos, há que copiar as águias, ganhar altitude para ver mais longe e assomarmos mais alto para ganharmos outra atitude.

Acredito que é possível trabalhar já as novas gerações para que cheguem ao mercado de trabalho global mais preparadas, com armas iguais aos seus concorrentes mais próximos e mais distantes. Simultaneamente há que pegar nos que ainda têm muito para dar e ajudá-los a reapetrecharem-se intelectual e tecnicamente naqueles aspectos básicos que lhes permitam continuar a serem pessoas úteis e activas. Por fim, como não podemos deitar as pessoas que sobram para debaixo do tapete, há que cuidar dos que nos transmitiram o testemunho para que vivam condignamente, participantes e activos.

Se as florestas precisam de vigilância para prevenir incêndios essa tarefa pode ser desempenhada por pessoas capazes de aprender noções básicas de prevenção e de operar um sistema elementar de alerta. O mesmo se passa quanto a algumas operações de limpeza. Seria uma forma de aproveitar pessoas ainda válidas, que assim ajudariam a preservar as nossas paisagens e floresta auferindo uma remuneração importante para o seu dia a dia. Já não falo dos benefícios para a saúde que advêm do exercício físico e do trabalho ao ar livre. Mas, o mesmo juízo pode ser aplicado em actividades dos mais idosos relacionadas com a infância, com as informações aos cidadãos, etc.

Estou a pensar num País a recuperar com o concurso de várias equipas, de diversos escalões de cidadãos. Os escalões altamente preparados e dotados, de ponta, a criar valor na ciência, no meio empresarial, a incrementar exportações de bens e serviços. Os escalões de infantis e juniores a serem preparados para a entrada na alta competição da vida, a nível comportamental, com programas escolares e extracurriculares, focados naquilo que interessa a nível global e local. Os escalão dos “activos”, empenhados a operar as mudanças possíveis para ultrapassar a inércia, a burocracia, o faz de conta, o conformismo. E por fim, para que isto tudo resulte, os eleitos, a elite, os visionários e dirigentes políticos a verem mais longe, a traçarem os rumos certos e a galvanizarem todos para a tarefa de colocar Portugal, em 10 anos, outra vez a sorrir e satisfeito consigo próprio.
Não acredito que o progresso e a mudança apenas se consigam com sofrimento, com amargura, com o fado, com sacrifícios que rapidamente redundam em mais sacrifícios
A preparação e o estudo exigem esforço e dedicação. Sem dúvida. Mas também exigem novos métodos e novas formas de motivação. A economia exige poupança e investimento, mas também precisa de ser mais justa na distribuição dos resultados, do topo até à base. O bem-estar e a qualidade de vida não são apenas a capacidade de possuir bens de luxo, carros, casas, mas há que apreciar novos parâmetros de qualidade de vida e bem estar mais ligados os desfrute da cultura, da natureza, do conforto real, do bom ambiente, da comida saudável, do acesso aos cuidados de saúde de qualidade…
Há que ganhar altitude e uma nova atitude para encarar novas formas de nos realizarmos fora dos sempre iguais carris do supérfluo e do efémero, alheados de outros bens igualmente valiosos mas que passaram para segundo plano.

Eu acredito nos portugueses e na capacidade de transformarmos o Cabo das Tormentas em Cabo Boa Esperança.

No fundo temos saber transformar o resultado dos nossos esforços em bens mais úteis ao mundo. E tudo o que é útil tem valor. Afinal de contas esta gesta pressupõe a mudança de comportamentos e a afirmação de novas atitudes.

É preciso ganhar altitude para mudar a atitude.

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