quarta-feira, dezembro 21, 2005

Estou louco e não sabia.


Atravessava a Ponte 25 de Abril, à noite, a caminho de um encontro, em Almada, quando ouvi na TSF a seguinte notícia: ” um em cada três portugueses sofre de doença mental.” Olhei para o meu colega e perguntei-lhe se estava a ouvir bem. A notícia, baseada num estudo científico, chegava pela voz amiga do locutor da TSF: “ Um terço dos portugueses sofre de uma doença do foro mental”. Virei-me para o passageiro do lado e fui pensando em voz alta, daqui a pouco, quando estivermos os três reunidos, temos grandes probabilidades de um de nós estar passado da cabeça ou ser doente mental.Por isso penso que já estamos no bom caminho. Um terço de Portugal sofre da cabeça, na pior das hipóteses está à beira da loucura. Cumpre-se o ditado – de são e de louco todos temos um pouco. Na verdade, o povo é sábio e lá sabe o que diz.Acho que este estudo vem dar uma nova esperança aos portugueses. A loucura lusitana preenche o requisito que nos faltava para conseguirmos resolver os problemas do País e dos portugueses.Muitos problemas não se resolvem porque os olhamos sempre da mesma maneira, segundo ideias pré-definidas, com as soluções do costume. Havia um défice de loucura neste País.Imaginemos que tínhamos um ministro das finanças louco, que resolvia olhar para as questões dos impostos de uma forma diferente. Num dia, sem dizer nada a ninguém, colocava a informática a funcionar. Depois, passava uma esponja por cima dos impostos devidos pelos portugueses e pelas empresas, e colocava tudo a zeros. Ao mesmo tempo informava os portugueses e as empresas de que uma nova era iria começar. Após esse virar de página todos os prevaricadores veriam os seus bens confiscados de forma sumária. Resultados: retirava de cima dos portugueses e das empresas portuguesas um problema sem solução, tal qual a dívida dos países do Terceiro Mundo. Aliviava as finanças do peso do passado e viraria o País para o futuro. Por fim, de um dia para o outro, garantiria o alargamento da base de contribuintes efectivos. Como nota final, a despesa pública seria mais racional, reprodutiva social e economicamente, e sem desperdícios.Assim, um ministro louco, tirava uma grande parte dos portugueses da depressão, libertava uma nova energia tão necessária à economia.Mas o ministro seria imediatamente internado num hospital psiquiátrico, por estar louco.Quando alguns amigos dizem que podemos ganhar dinheiro com a indústria do lazer e do espectáculo, aliando a produção de conteúdos, sem subsídios do Estado, apenas com a cedência de equipamentos públicos mal aproveitados e com a utilização do know-how adquirido por alguns profissionais, então logo lhes é dito que estão loucos.Penso que foi isso que alguns pensaram de quem na Igreja permitiu a criação de uma rádio como a RFM numa rádio católica. Uma loucura que valeu liderança e rejuvenescimento de audiências, passando a mensagem da Igreja entre boas músicas. O mesmo sucedeu quando alguns dirigentes acharam possível ganhar a organização da Expo 98 ou do EURO 2004.Foi uma loucura. Mas conseguimos.“Apenas os paranóicos sobrevivem.”_ afirmou Andy Grove, D,G. da Intel e Tom Peters afiançou que “tempos loucos pedem organizações loucas”.Como eu gostaria que os membros deste governo pertencessem ao terço de loucos, imaginativos, empreendedores, visionários, capazes de tornar Portugal num produtor de bens e serviços úteis aos clientes externos, aumentando as nossas exportações, e criando riqueza e bem-estar interno para os seus nacionais.Este Portugal só tem cura quando os loucos derem asas aos seus sonhos.Não tinha noção de que havia tanta e tão boa matéria-prima em Portugal. É um desperdício não aproveitar a ousadia, a loucura de Portugal.Eu acho que estou louco. Desde que ouvi aquela notícia.Um terço dos portugueses sofre de doenças mentais. Estamos todos loucos. E não sabíamos.É estranho, mas faz sentido.Nota: Thomas Alva Edison, William Shakespeare, Isaac Newton, Benjamin Franklin, Claude Monet, Henry Ford, Bill Gates, Jim Clark, Steven Spielberg, Gianni Versace são alguns dos lunáticos brilhantes com a capacidade de inventar coisas que as pessoas desejam. Vide, Lunáticos e Psicólogos, pag 93-114, in O Futuro do Sucesso. Viver e trabalhar na Nova Economia, de Robert B. Reich. Editora Terramar.

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