sexta-feira, março 03, 2006

Sinais e percepções. Nada mais




José Sócrates

Assisti a várias intervenções do primeiro-ministro, José Sócrates, na sessão plenária da Assembleia da República. Fiquei com a sensação de que é um homem que está convicto daquilo que defende.

Que está muito bem preparado nos diversos temas que debate ou que é confrontado pela oposição. Demonstra que está a agir no presente, que tem uma ideia de futuro para Portugal e, o mais importante, que utiliza a memória histórica para enquadrar a defesa das suas posições. Fala claro e com determinação. É um sinal de consolidação de um carisma e de afirmação de uma liderança.
Ficamos com a percepção de que temos à frente do Governo um político forte, dinâmico e cheio de energia.

Marketing Autárquico

Esta semana estive em contacto com técnicos superiores de diversas autarquias. São, na sua maioria, pessoas que trabalham nas áreas da comunicação e assessoria de imprensa juntos dos presidentes de câmara ou em diversos departamentos camarários. É gente que possui juventude, formação escolar superior, alguns deles estão a frequentar mestrados ou a preparar doutoramentos. Tivemos uma conversa de algumas horas sobre marketing autárquico. Constato que o marketing e a comunicação da maioria das câmaras ainda não saiu da mera economia das boas e más notícias na imprensa nacional e local, da sua existência ou não. Diagnósticos baseados em estudos quantitativos e qualitativos de mercado e de opinião, estratégias e planos baseados em evidências factuais para aumentar a competitividade dos municípios, políticas continuadas de comunicação pública e política, são uma miragem. Continuam a informar unilateralmente os munícipes e utentes, preterindo a acepção mais democrática e funcional da comunicação, que é promover a participação dos cidadãos na gestão autárquica. Confunde-se o conjuntural, o marketing eleitoral, com o estrutural, de médio e longo prazos, o marketing autárquico e público.
É um sinal da falta de preparação dos eleitos.
Ficamos com a percepção de que há um défice de democracia e de comunicação democrática.

Liberdades e Justiça

A discussão sobre as liberdades está aí, relançada pelas buscas numa redacção de um jornal diário da capital. As pessoas sentem-se escutadas e incomodadas com a potencial imiscuição na sua esfera privada, quando ao arrepio da lei. As pessoas não compreendem como aparecem notícias nos jornais sobre investigações e processos que correm supostamente em segredo técnico-jurídico. Os cidadãos falam, amiúde, do poder dos jornalistas que pode afectar a dignidade e o bom nome de muitos cidadãos. Mas as pessoas pelam-se em comprar e consumir jornais e informação sobre a vida privada de outros cidadãos. Estes entram no jogo e aumentam o seu valor de mercado propiciando notícias sobre a sua vida, nessa mesma imprensa. Somos contra o excesso de prisão preventiva, porque prejudica a liberdade e a presunção de inocência e as liberdades dos cidadãos. Mas queremos que as autoridades actuem contra o crime e a insegurança. Queremos uma Justiça célere ao mesmo tempo que desejamos ver garantidas as nossas liberdades, direitos e garantias.
São sinais contraditórios, em que os desejos e as possibilidades se chocam na prática, na história, na cultura e na psicologia dos portugueses. Sinais de que algo se está a fazer mas que se tem de ter em conta que num dos pratos da balança estão os direitos, liberdades e garantias, a liberdade dos cidadãos e, no outro, a segurança e a credibilidade e de um sistema de justiça e de ordem pública que se quer forte e respeitado.
Ficamos com a percepção que os governantes estão a meter a mão na massa e a contender com práticas que devem acabar.

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