sexta-feira, janeiro 13, 2006

Ventos à solta, tempestades à vista


Não me parece muito difícil adivinhar que vêm aí tempos de turbulência para o Partido Socialista.

O que está para vir acontecerá, independentemente dos resultados nas presidenciais. Os traços anunciados da crise que aí vem começaram a ganhar contornos com a candidatura de Manuel Alegre à liderança do PS. O resultado de Alegre e a derrota da família Soares na luta interna socialista reforçaram a diferenciação política daquele face ao passado e à nova direcção. É notória, para além das tentativas de aproximação de Sócrates a Alegre, para consumo externo, a atitude de afirmação crescente das ambições de Alegre. Acho que fora de tempo ou do seu tempo. Com a falta de estratégia presidencial, o vazio deixado pela actual direcção do PS e os sinais de hesitação vindos a público, Alegre avançou e marcou definitivamente a sua discordância quanto à actual direcção do PS.
Como é bom de ver, Alegre tem à sua volta figuras importantes do PS, consegue apoios de militantes do PS e ainda congrega simpatias fora da área de influência do PS. Isto é um facto. Alegre está sentido com o seu partido e com a actual direcção. Outro facto. Alegre protagoniza uma ânsia de intervenção política que o levará, após estas eleições, a clarificar território político dentro e fora do PS. Esperemos para ver como o PS vai aguentar as turbulências que se avizinham.
Mais ventos
Há oportunidades únicas para dar sinais fortes aos cidadãos e fazê-los acreditar na política e nos políticos, como a arte de governar em prol do bem comum. O caso Pina Moura é um triste exemplo do que não deve ser permitido em Política. Um político não pode ir ao Governo arranjar contactos, conhecer informação privilegiada sobre determinados sectores da sua tutela ou ventilados em Conselho de Ministros, estranhos à sua actividade anterior enquanto militante do PCP, economista, assistente universitário, colaborador de José Luís Judas na Câmara de Cascais, e por aí adiante na rota ascendente, até ter chegado à cabeceira de Guterres, para após a saída do Executivo entrar profissionalmente nos sectores que tutelou. Mas, o mais grave é o facto de se manter deputado, acedendo aos círculos do poder e a informação privilegiada enquanto dirige negócios numa empresa que interfere em sectores estratégicos vitais da nossa economia. Em boa verdade não me custa nada a crer que existam actualmente outras situações de legitimidade duvidosa, com outros políticos, que compatibilizam cargos de deputados com actividades profissionais em diversas empresas, instituições públicas ou privadas. Tudo é possível neste país.
Penso que a classe política anda a semear ventos que levam a que os cidadãos se revoltem contra estes sinais de promiscuidade.
Paguem mais
Defendo por isso que os cargos políticos devam ser muito bem remunerados. Acho que para termos políticos profissionais as suas funções deveriam ser das mais bem pagas. Isto faria aumentar a concorrência a esses cargos, os melhores estariam ansiosos por alcançar tal dignidade e privilégio. Mas o dinheiro e as regalias não resolveriam tudo.
Era necessário que a lei fosse clara, os dirigentes dos diversos partidos fossem suficientemente categóricos e inflexíveis na aprovação de algumas regras simples: coragem para aumentar os vencimentos dos políticos, às claras; política em exclusivo e dedicação total; não acumulação de mandatos políticos noutros órgãos; escrutínio rigoroso do património e fontes de receita dos candidatos a políticos; controlo rigoroso dos sinais exteriores de riqueza após cessação de funções; período de nojo obrigatório durante 5 anos ou o tempo necessário para que não se tirem proveitos da informação e contactos estabelecidos durante o exercício de cargos políticos e públicos;
M as isto não chega, dirão os meus queridos leitores. O resto tem a ver com o berço, a formação integral das pessoas e dos cidadãos e com os valores que lhes são incutidos na família, na escola e pelo exemplo dos que os antecedem no exercício de cargos políticos e públicos.
Se, depois de bem pagos e dignificados prevaricarem, rua ou cadeia com eles. Sob pena de estarmos a semear ventos para colher tempestades.
Nota: Também a clarificação das actividades de representação de interesses e o conhecimento dos seus agentes deveria ser um caminho para colocar em cima da mesa uma actividade que existe, que representa algum valor económico, mas que ao contrário do que se passa em alguns países em Portugal é tratada como inexistente.

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