O medo. A ignorância. A subserviência
24-02-2006
H á um medo que nos protege e é saudável. É o tipo de medo que nos mantém atentos e responsáveis.
O que nos prepara melhor para a execução de determinadas tarefas. É o medo amigo. Conhecemos a situação de perigo, a dimensão do desafio, e tomamos todas as medidas para vencer.
Há outro tipo de medo que resulta do desconhecimento. Da falta de controlo sobre as diversas variáveis do meio com o qual estamos a agir, da ausência de auto-domínio sobre nós próprios e as nossas capacidades. É o medo que paralisa ou nos descontrola, que provoca o pânico.
A ignorância é o vazio. É o estado daqueles que não têm conhecimentos e cultura em virtude da falta de estudo, de experiência ou prática. Ou, se quisermos, é um estado que pode também resultar de um amontoado de informação, desconexa, que por causa das características do seu portador ou utilizador se torna inútil e perniciosa. É lixo. A subserviência é uma atitude rastejante, que caracteriza os que perante a falta de objectivos, capacidade e visão estratégica se acomodam e não enfrentam.
Os dias que correm demonstram que o medo, a ignorância e a subserviência andam de mãos dadas. O caso das caricaturas é a face de um conflito entre dois modelos de sociedade e do relacionamento Estado/Religião. A violência, as ameaças e a nossa descoordenação demonstram que há medos. E todos temos medos porque não nos conhecemos o suficiente. Há uma ignorância bilateral habilmente aproveitada por líderes e negociantes.
A economia, o petróleo e os petrodólares fizeram-nos esquecer a história, a cultura e a necessidade de perceber aquela gente. Demos mesmo de barato e pactuamos com práticas e regimes que colocam em causa a pessoa humana e a sua dignidade. Recentemente aproveitámos a religião deles e utilizámo-la na luta contra o regime soviético. E agora, de repente, vemo-nos com o menino nas mãos. E são muitos e de muitas mães. E estão lá e cá. E nós cheios de medo, paralisados, porque não os conhecemos, não sabemos falar com eles, não conseguimos encontrar um ponto de encontro. E eles, ainda presos ao lado primário da religião, não nos conhecem e não sabem falar connosco. O medo e o pânico instalaram-se dentro da jaula. Nós e eles, sozinhos, todos cheios de medo. Muitas vezes subservientes e sem rumo.
Nota: A propósito de subserviências, ainda não percebi porque se substituiu na praça pública um cônsul. Foi apenas por causa e após a carta de um jornalista angolano a quem foi recusado um visto para Portugal? E nada se diz quanto às inúmeras horas e dias porque se esperava, até há pouco tempo, na Embaixada de Angola para se obter um visto. Tempo e dinheiro, dólares de preferência. Medo e subserviência.
Eduardo dos Santos e os actuais governantes de Angola têm de ser ajudados a garantir a alternância democrática e a colocar a sua permanência no Poder a juízo do povo. Já deram o seu contributo para a paz. Podem descansar e prestar outros serviços a Angola. Tal como Chissano, em Moçambique. E nós, evitando complacências conjunturais com ditaduras, regimes não democráticos e violadores dos direitos humanos, como no Irão, na Arábia Saudita, no Zaire, etc., cujo resultado ameaçador hoje se pode ver.
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