Abril nas ilhas
Vivi Abril com 14 anos de idade. Foi um somar de experiências, um crescendo de consciência que um jovem como eu foi tendo desde então. Senti o grito de liberdade em Angola. Vivi as contradições que a Liberdade causou, obrigando ao recomeço de vidas. Vi, mas não percebia, porque a Liberdade se fez acompanhar de algumas injustiças, fruto de outras tantas acumuladas ao longo de anos e anos, o que já percebo hoje.
Na Madeira, assisti aos primeiros passos da Autonomia. De longe acompanhei os anseios dos açorianos no mesmo caminho pela busca da plena condição de cidadãos.
O que ontem eram reivindicações, nalguns casos radicalizadas, hoje são certezas dentro de uma normalidade legal e constitucional.
Extensões universitárias nas ilhas, Universidades da Madeira e dos Açores. Passagem de competências governativas para órgãos de governo próprio das Regiões Autónomas, regionalização de Finanças Locais e de serviços, hino e bandeira próprios de cada Região, entre outras aspirações tornadas realidade.
Aos poucos tudo se foi cumprindo no verdadeiro espírito de Abril.
Mas o mais importante para quem revisita as regiões autónomas é o ambiente de progresso e desenvolvimento que salta à vista. A Madeira e os Açores de 74 nada têm a ver com a realidade actual. O mesmo se pode dizer do País inteiro. O acesso ao ensino, aos padrões aceitáveis de qualidade de vida e bem-estar, aos cuidados de saúde, a par da assunção da capacidade de auto-governo é um dado adquirido e consensual.
Mas Abril é um programa que não tem fim. É uma caminhada na realização plena do homem nos aspectos mais elevados da sua dignidade como pessoa. Há novas metas, novos sonhos, novos desafios.
O que em 74 pareciam conquistas estáveis, hoje são lutas permanentes pela igualdade de oportunidades, pelo respeito de das capacidades diferenciadas de cada um. Hoje a globalização, a sociedade da informação e do conhecimento exigem a actualização de Abril e das suas metas.
Já não bastam as liberdades formais, vertidas em papel. A educação para a vida activa ganhou novos parâmetros de exigência. O respeito pelos mais velhos, pelas mulheres, pelos desempregados e desfavorecidos obrigam a novas políticas e a uma nova geração de políticos mais preparados.
A sociedade civil, e todos nós, enquanto parte integrante dela, temos de aprender a associar-nos para os pequenos e grandes desafios da actualidade. Bem sei que noutros países este espírito de associação, de trabalho em organizações sem fins lucrativos mas que geram riqueza, já deu muitos e firmes passos, tão bem descritos em Tocqueville ou, mais nos nossos dias, por Peter Drucker. Quando os americanos querem fazer algo grandioso e importante ou ínfimo são capazes de se unirem ao redor de uma associação, explica-nos o primeiro, no seu retrato sobre a Democracia na América. Já Drucker discorre sobre a importância para o bem comum dos bons exemplos das organizações sem fins lucrativos, não menos exigentes do que as empresas.
É patente que a experiência política autonómica madeirense e açoriana têm traços de personalidade diferentes. A história moldou as duas regiões de forma diferenciada mas, na essência, Abril está a cumprir-se em ambos os territórios regionais.
Os Açores e a Madeira são espaços de vivência democrática onde o seus governos procuram agora enfrentar os efeitos da Globalização, da ultra-periferia, da deslocalização dos centros económicos para outras paragens.
Penso que os novos tempos e a nova economia, embora mais volátil e traiçoeira, correm a favor de regiões que têm de encontrar nos serviços, nas indústrias do lazer, da saúde e na incorporação de conhecimento na produção a razão do seu sucesso.
Um jovem açoriano ou madeirense tem de ser preparado para vencer na sua terra ou em qualquer parte do mundo, num esforço que trará sempre retorno para a sua região de origem.
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