sexta-feira, janeiro 06, 2006

Porque falharam os partidos regionais?





Já passou o tempo suficiente para podermos reflectir sobre o fracasso, em termos de mobilização e adesão popular, dos partidos políticos regionais**. Penso que tinham tudo para vencer, mas falharam.

A UDA/PDA, agora PDA - Partido Democrático do Atlântico, defendia um projecto de autonomia para os arquipélagos da Madeira e dos Açores, legítimo, ousado e avançado. Os seus dirigentes enquadraram-se no quadro legal democrático, com dificuldade é certo, porque queriam ir mais além nas suas aspirações insulares e autonomistas. Bem pensado.
Pediam, perante a discriminação política e económica das suas regiões, que o novo regime democrático concedesse mais poderes aos ilhéus e às suas instituições. Reclamavam a criação e transferência de competências próprias para as respectivas regiões nos planos legislativo, económico, financeiro e político. Ao nível simbólico, também exigiram o reconhecimento da bandeira e do hino de cada uma das regiões.
Então porque é que os partidos regionais não singraram e continuam remetidos a uma posição política residual, numa situação de quase inexistência prática?
Numa primeira reflexão, acho que tiveram problemas de liderança, de plataforma política, de inserção correcta na sociedade insular e de concorrência inteligente e pragmática.
As lideranças desses partidos, nos Açores e na Madeira, talvez as possíveis, não acompanharam a modernidade e a vanguarda das suas ideias políticas mais nobres: a autonomia. Não surgiu um único líder que aliasse a teoria à capacidade de inserção e mobilização inter-classista. Os líderes madeirense e açoriano do PDA afunilaram o futuro do PDA, não conseguindo falar para o todo. A plataforma política, embora avançada e ousada para a época, não foi transportada de forma adequada pela liderança possível, nem fez uma parte significativa das populações insulares reverem-se na dualidade necessária, programa-liderança. Falhou a estratégia de inserção social profunda, a rede política e de solidariedades que poderiam servir de base à implantação geográfica, consistente e consequente. Falhou a trilogia liderança-programa-rede social, condição necessária de apoio e crescimento popular. Por fim, o factor concorrência dos partidos nacionais, nomeadamente e essencialmente do PPD, foi determinante na contenção dos partidos regionais. Aqueles escolheram rapidamente lideranças regionais fortes e carismáticas, aderiram aos valores fundamentais da democracia e em simultâneo agarraram o capital de reivindicação e de queixa das populações insulares. Em certos casos permitiram, por algum tempo, a confusão de áreas, a militância simultânea, o que iludiu os líderes regionais, mas permitiu ao PPD reforçar a liderança, o programa político regional e garantir a rede necessária à sua implantação. No momento certo foi só levantar o pé do tabuleiro mais instável e inseguro e engrossar as fileiras do PPD e do CDS. Perante o poder concreto, a garantia de projectos de vida e os benefícios do poder mais efectivos, como é bom de ver, a escolha foi fácil. Um caminho sem retorno e fatal para o PDA.
O PS das ilhas, em especial o Partido Socialista dos Açores, partido inicialmente rejeitado pelos regionalistas, foi também incorporando e defendendo os valores da autonómicos, capitalizando no centro-esquerda e esquerda, e secando os terrenos possíveis de progressão teórica. Hoje - o PS/Açores e o seu presidente - é um grande partido da autonomia, onde muitos regionalistas de então votam sem problemas.
A questão que se coloca, e que só os próprios saberão responder, é a de saber se o PDA ainda faz sentido? Se sim, como pensam torná-lo num partido com peso regional? Como vão resolver a questão da liderança, da actualização do programa político e da rede social de inserção? Por fim, será isso possível? Há espaço político? Aqui entra a vontade e determinação dos políticos e a ciência política.
Nota final: Estava eu no Funchal, estudante de Liceu, quando o dr. Aragão de Freitas me pediu que o ajudasse a fazer o símbolo para o novo partido UDA/PDA. Assim, pedi a um amigo, com jeito para essas artes, o Berto (oriundo de uma família regionalista simultaneamente militante no PPD), e ele lá fez uns rabiscos, com o sol e o mar… Entregue o símbolo, passados alguns dias fui informado de que tinha sido o escolhido para símbolo do PDA. O autor, Norberto Melim, é hoje um ilustre arquitecto e bem sucedido promotor imobiliário madeirense.
** Partidos políticos “regionais” - legalmente tiveram de ser partidos nacionais, mas a sua génese e direcção foi regional, insular e teve origem em movimentos autonómicos e junto de círculos pró-independência, dos Açores e da Madeira..

0 Comments:

Enviar um comentário

<< Home