Quando a inveja cega e a incompetência é atrevida.
A notícia, e que notícia, é que os assessores de imprensa dos ministérios das Finanças e dos Negócios Estrangeiros ganham mais que os de Sócrates – ler no Público de 18 de Junho de 2006. O tema ocupa a página 22 inteira, e tem chamada na primeira página.
O que é triste é que se perdeu uma de duas oportunidades: a de ficar calado e não criar uma não notícia, quando muito uma curiosidade merecedora de uma lauda, em medida antiga; e a possibilidade de tocar no âmago do problema, e denunciar, ou noticiar, o percurso de vaivém da maioria dos assessores de imprensa, deste e de outros governos e instituições públicas. Eles saem dos jornais, das rádios, da televisão, das agências e rumam aos gabinetes governamentais para uma actividade de comunicação política, parcial, que visa a manutenção do poder por parte dos partidos que sustentam o governo em cada momento. Trabalham, supostamente, para a criação de uma imagem positiva dos titulares de funções políticas. È uma actividade política pura e dura. No final, a meio dos mandatos quando as coisas não correm bem, voltam para as redacções e direcções dos órgãos de comunicação social, vestindo de imediato a capa de jornalistas, que se regem pelos mais altos critérios da ética e da deontologia profissional.
Quanto a mim é aqui que está a notícia. Nos percursos reiterados, para lá e para cá, dos assessores-jornalistas ou vice-versa. Denunciar os casos e a falta de legislação e de
auto-regulação da classe jornalística que obrigue a um período de nojo, de defeso, na transição de funções políticas para jornalísticas.
Respondem que depois ficariam desempregados e seria uma injustiça… Não percebo. Na vida fazem-se opções, escolhem-se carreiras, que podem ser de jornalistas, assessores de imprensa de empresas (agências de comunicação incluídas), associações de interesses, governos e organismos públicos. Opções que implicam benefícios e deveres de transparência.
Um período de tempo equivalente a um mandato governativo de impedimento para o regresso directo à profissão seria suficiente para arrefecer os ímpetos e ânimos destes profissionais. Por outro lado, clarificaria carreiras, dando lugar a profissionais preparados para o efeito, que possuam uma visão estratégica e global da comunicação, ao invés da função instrumental e efémera de colocar notícias amigas. E por aqui pretendo ficar.
Ou têm inveja. Ou estão cegos. Ou não querem ver o que é óbvio.
Nota: E já que estamos numa de transparência e aumento de emprego, não ficaria nada mal a proibição da acumulação de alguns cargos públicos e funções políticas. A título de exemplo: a cumulação deputado/ vereador; deputado/administrador de empresas; deputado/advogado; vereador/advogado; vereador/administrador de empresas públicas e de organismos públicos.
Um cargo por pessoa, melhor remunerado, ajudaria a transparência.
Se são tão bons, que vão para a privada, criem empresas, concorram. Mas um pé em cada lado não é justo nem bonito.
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