sexta-feira, novembro 10, 2006

Escolha quem vai viver, Senhor Ministro. A seguir durma bem.






Quando era jovem, contaram-me a triste história de um colega de liceu que falecera num acidente de mota. Lembro-me da sua cara, dos tiques dos seus olhos, da expressão da sua face como se fosse hoje.Deu entrada na urgência do hospital após um acidente de mota. Anunciada a chegada do sinistrado, em estado grave, quase cadáver, o médico de serviço logo observou, com a frieza de quem lida diariamente com a morte e o sofrimento - lá vem aí mais um maluco das motas.... Quando levantou o lençol, depara com o seu próprio filho.
Com o encerramento das urgências, aquela frase fria poderá ser substituida pela decisão impossível, se dois filhos, sobrinhos ou familiares do ministro chegarem a uma falsa urgência, com enfartes ou situação clínica de idêntica gravidade, solicitada pelo médico e enfermeiro de serviço ao hipotético acompanhante _ senhor ministro, decida qual dos seus filhos, sobrinhos ou familiar quer que nós salvemos? Temos de optar por um deles ou perdemos os dois.
As urgências são a última porta do sistema para a maioria do povo, para os cidadãos que não conseguem consultas rápidas, para aqueles que precisam de um sistema de assistência mais justo. Por isso, em 11 milhões de urgência por ano, cerca de 50 % são falsas, mas legítimas, porque colmatam as falhas dos centros de saúde e a falta de médicos. Por fim, as urgências são o cordão sanitário que defende a saúde pública dos portugueses, controlando a tuberculose e as complicações da sida.
É tempo de parar e fazer as coisas pelos alicerces, não pelo telhado.