terça-feira, agosto 15, 2006

O cemitério das borboletas






Hoje passeei pelas levadas do Funchal. Percorri levadas esculpidas na rocha pelas mãos de madeirenses corajosos, humildes, homens que se foram gastando ao ritmo do trabalho da picareta, com o embate dos ventos, das chuvas e pelo medo da derrocada. Eles construiram um lugar perfeito para contemplar a natureza. As levadas são caminhos que levam água pela encosta abaixo, para alimentar os campos e as suas gentes. Hoje servem para produzir luz. Enquanto não se cumprem, embelezam a paisagem e o espírito com os sons calmantes da água que brota sem parar, vinda do ar e das serras da Laurissilva.
As águas atravessam túneis. Foi num desses túneis, escuro, que o Pedro me ajudou a descobrir a última morada de uma espécie de borboletas. Elas voam para ali, poisam suavemente nas paredes húmidas do furado, adormecem num sono calmo, sem regresso, e deixam-se consumir por um fungo que as abraça lentamente até desaparecerem.
Pela primeira vez conheci o cemitério das borboletas da Fajã. Assisti ao adormecimento de uma borboleta. Há dias em que apreendemos coisas que fazem sentido.
É a sabedoria da natureza.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Olá João Tocha. Eu sabia que as borboletas tinham pouco tempo devida, porém não sabia que era desta maneira que morriam.Muito bonito é e se pensar mesmo!

2:46 da tarde  

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