domingo, junho 25, 2006

As Constituições dos Franco-Maçons. A respeito de Deus e da Religião


Um Maçon é obrigado, pela sua Condição, a obedecer à Lei moral; e, se compreende correctamente a Arte, nunca será um Ateu estúpido nem um libertino irreligioso. Embora nos Tempos antigos os Maçons fossem obrigados, em cada País, a ser da Religião, qualquer que ela fosse, desse País ou Nação, julga-se agora mais conveniente obrigá-los apenas àquela Religião com a qual todos os Homens concordam, deixando a cada um a sua Opinião particular; isto é, serem Homens bons e verdadeiros, ou Homens de Honra e Honestidade, quaisquer que sejam as Denominações ou Crenças que os possam distinguir; assim, a Maçonaria torna-se o Centro de União e o Meio de conciliar uma Amizade verdadeira entre Pessoas que poderiam permanecer perpetuamente distanciadas.



In Os Deveres de um Franco-Maçon, Constituições dos Franco-Maçons, de James Anderson, contendo a História, os Deveres, os regulamentos da Muito Antiga e Venerável Fraternidade. Um edição traduzida e anotada por Salvato Telles de Menezes, da editora Campo da Comunicação, obra bilingue, apresentada ontem, 24 de Junho de 2006, no Hotel Altis, em Lisboa.

James Anderson nasceu em Aberdeen, na segunda metade do sec XVII. Foi baptizado em 19 de Janeiro de 1679. Em 1709 é ministro de uma capela presbiteriana escocesa e capelão da Loja de S. Paulo, em Londres, fundada em 1675 para se ocupar da construção da catedral homónima.
Começa a trabalhar nas Constituições em 172o, que apresenta em 1721. Morreu em 1739. (Ilustração a partir de uma quadro de Rui Perdigão)



domingo, junho 18, 2006

Quando a inveja cega e a incompetência é atrevida.


A notícia, e que notícia, é que os assessores de imprensa dos ministérios das Finanças e dos Negócios Estrangeiros ganham mais que os de Sócrates – ler no Público de 18 de Junho de 2006. O tema ocupa a página 22 inteira, e tem chamada na primeira página.
O que é triste é que se perdeu uma de duas oportunidades: a de ficar calado e não criar uma não notícia, quando muito uma curiosidade merecedora de uma lauda, em medida antiga; e a possibilidade de tocar no âmago do problema, e denunciar, ou noticiar, o percurso de vaivém da maioria dos assessores de imprensa, deste e de outros governos e instituições públicas. Eles saem dos jornais, das rádios, da televisão, das agências e rumam aos gabinetes governamentais para uma actividade de comunicação política, parcial, que visa a manutenção do poder por parte dos partidos que sustentam o governo em cada momento. Trabalham, supostamente, para a criação de uma imagem positiva dos titulares de funções políticas. È uma actividade política pura e dura. No final, a meio dos mandatos quando as coisas não correm bem, voltam para as redacções e direcções dos órgãos de comunicação social, vestindo de imediato a capa de jornalistas, que se regem pelos mais altos critérios da ética e da deontologia profissional.
Quanto a mim é aqui que está a notícia. Nos percursos reiterados, para lá e para cá, dos assessores-jornalistas ou vice-versa. Denunciar os casos e a falta de legislação e de
auto-regulação da classe jornalística que obrigue a um período de nojo, de defeso, na transição de funções políticas para jornalísticas.
Respondem que depois ficariam desempregados e seria uma injustiça… Não percebo. Na vida fazem-se opções, escolhem-se carreiras, que podem ser de jornalistas, assessores de imprensa de empresas (agências de comunicação incluídas), associações de interesses, governos e organismos públicos. Opções que implicam benefícios e deveres de transparência.
Um período de tempo equivalente a um mandato governativo de impedimento para o regresso directo à profissão seria suficiente para arrefecer os ímpetos e ânimos destes profissionais. Por outro lado, clarificaria carreiras, dando lugar a profissionais preparados para o efeito, que possuam uma visão estratégica e global da comunicação, ao invés da função instrumental e efémera de colocar notícias amigas. E por aqui pretendo ficar.
Ou têm inveja. Ou estão cegos. Ou não querem ver o que é óbvio.


Nota: E já que estamos numa de transparência e aumento de emprego, não ficaria nada mal a proibição da acumulação de alguns cargos públicos e funções políticas. A título de exemplo: a cumulação deputado/ vereador; deputado/administrador de empresas; deputado/advogado; vereador/advogado; vereador/administrador de empresas públicas e de organismos públicos.
Um cargo por pessoa, melhor remunerado, ajudaria a transparência.
Se são tão bons, que vão para a privada, criem empresas, concorram. Mas um pé em cada lado não é justo nem bonito.

terça-feira, junho 06, 2006

De que cor era o fumo?


Do meu antigo gabinete, quando o ritmo acelerava e os nervos se soltavam, dava muitas vezes comigo a olhar pela janela, contemplando uma chaminé implantada num edifício, de linhas simples, sem excessos nem argumentos desnecessários. Umas vezes era o fumo branco que brotava. Outras, era o negro. Então, lá vinham ao de cimo, as histórias, os medos, as fantasias, as patranhas e imagens que me ofereceram em criança: aquele vai para o Céu. Mas que alma negra, a caminho do purgatório. Frio, distante, lá fazia as minhas análises e contas acerca das almas e da sua encomenda aos céus ou aos infernos.Hoje fui lá. Aos Olivais. Estive no local onde as almas se separam pelos caminhos imaginários da salvação ou da penitência. Fui apenas dar um beijo à irmã de um amigo que partiu. A Odete, a cuja casa ia quando era pequeno. Ela estava igual a ela. Passados mais de 20 anos, reapresentei-me. Ela chamou-me pelo nome próprio. Dei-lhe um beijo, fiz-lhe uma festa no cabelo, e fui-me embora.Para trás ficou o corpo do Raul. Não esperei para verificar se saiu fumo branco ou preto. Apenas revi mentalmente as suas músicas, as da minha infância e as que se seguiram.