sexta-feira, dezembro 30, 2005

Impossibilidade presidencial




O próximo Presidente da República deverá possuir algumas características que reputo de essenciais ao bom desempenho da sua missão em Belém e que ajudem a encontrar a plataforma de consenso adequada ao desenvolvimento e estabilidade de Portugal.
Gostava de ter um Presidente simpático, afável, com boa capacidade de relacionamento pessoal e institucional, sem ressentimentos, que esteja bem com a vida.
Seria muito bom que fosse um homem deste tempo, que conhecesse a fundo os problemas de hoje e os que se vão colocar nos próximos anos, que dominasse os dossiers da economia mundial e nacional, que conseguisse equacionar e acompanhar as linhas estratégicas de desenvolvimento nacional num ambiente global.
Um diplomata, um homem do mundo, no sentido de conhecer personalidades além fronteiras, com uma boa rede de contactos e capaz de granjear boas vontades, simpatia, e afirmar a credibilidade e prestígio do nosso país com as suas relações pessoais e políticas.
Gostaria de ter um Presidente experiente, com obra feita e reputação consagrada na defesa dos mais elementares valores da civilização e da democracia. Alguém que já tenha mostrado aquilo de que é capaz, que não falha quando é preciso.
Se esse futuro Presidente tivesse passado por uma experiência laboral, tal como uma grande parte dos portugueses, e soubesse dar valor ao sofrimento dos trabalhadores e às suas carências, também não ficaria nada mal. Seria mais sensível aos reais problemas dos portugueses.Que fosse um Presidente poeta, sonhador, com capacidade de se emocionar com as coisas belas da vida, que conseguisse transmitir esse quadro aos seus concidadãos, seria uma pérola para todos nós. Um homem que cantasse a liberdade e a fraternidade.
Mas preferia um Presidente jovem, enérgico, inteligente, cheio de iniciativa, de utopia, ao mesmo tempo conhecedor e ilustrado, combativo e com boa capacidade para colocar em cima da mesa temas actuais. Um Presidente que garantisse a estabilidade, fizesse cumprir a Constituição, que soubesse respeitar os outros poderes.
Não quero um Presidente que julgue que pode governar, que vá imiscuir-se nas atribuições e competências alheias. Nem Portugal precisa de um Presidente que levante bandeiras fracturantes da sociedade portuguesa, virando uma parte dos portugueses contra a outra. Tão pouco queremos um Presidente que faça de Belém um centro de intriga palaciana. Também não precisamos de um Presidente faz-de-conta.
Sei que este utópico perfil ideal é a minha impossibilidade presidencial.
Resta-me escolher aquele que mais se aproxima deste perfil. Os portugueses também terão de fazê-lo. É um exercício de cidadania e um dever. Não há escolhas perfeitas. Caberá a cada um escolher em consciência. Ao eleito cabe ser o Presidente de todos e ajudar Portugal a ir mais longe.
A democracia é assim. As escolhas são feitas perante hipóteses concretas que se colocam à consideração do povo. A história demonstrou que o povo eleitor tem sabido, em cada momento, escolher a fórmula certa, doseando excessos, neutralizando potenciais hegemonias, infirmando prognósticos catastróficos, deixando o tempo acalmar as paixões.
Depois de 22 de Janeiro, Portugal vai continuar no seu caminho rumo a uma sociedade mais justa, sem dramas, com um Presidente para unir os portugueses à volta dos desafios e valores essenciais, com um Governo mandatado maioritariamente para governar e poderes regionais e locais que cumprirão a sua nobre missão mais próximo das populações.
Trata-se de uma fórmula complexa mas pensada para, na sua diversidade e legitimidade, cumprir os fins da democracia portuguesa.

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Faça como os atletas de alta competição.






Já deve ter reparado, minutos antes da partida de uma corrida de Fórmula 1, nos pilotos, imóveis, dentro dos seus carros, muitas vezes de olhos fechados ou simplesmente fixando o horizonte. Sabe o que é que eles estão fazer? Fazem o mesmo que os atletas antes de uma prova de atletismo, de natação, de xadrez, de qualquer modalidade de alta competição. O corredor de automóveis, concentrado, está a rever mentalmente a corrida que vai realizar, o percurso, as curvas e, espante-se, a realizar já o momento em que vai cruzar a linha da meta e vencer a prova. É isso mesmo, ele está a antecipar ao milímetro todo o seu desempenho e a ganhar autoconfiança.

O comportamento dos campeões é estudado em diversas universidades e as conclusões desses estudos são aplicadas ao mundo da gestão comportamental das pessoas, das empresas e das organizações. Os nossos pensamentos induzem os nossos comportamentos. Quanto mais imaginarmos o nosso futuro mais probabilidades temos de ver concretizadas as nossas ambições.
Mas não basta imaginar. O atleta de alta competição trabalha exaustivamente, todos os dias, para melhorar o seu desempenho. Sem trabalho e esforço pessoal não melhoramos o nosso desempenho. Fazendo aquilo que gostamos e fazemos bem, e imaginando ao pormenor o nosso desempenho, temos o caminho mais facilitado para atingir os nossos objectivos.
Hoje pretendo transmitir-vos uma técnica que nos pode ajudar a tomar decisões no nosso dia a dia e a não nos perdermos na imensidão das solicitações de que somos alvo.
O que vos quero transmitir é tão só uma metodologia para assumirem melhor o controlo dos vossos dias, para manterem nas vossas mãos o volante e não deixarem que terceiros conduzam a vossa vida.

Como enfrentar as múltiplas tarefas de cada dia? É simples e resolve-se com as letras A, B e C. Devemos classificar as nossas tarefas com cada uma destas letras. As tarefas que têm de ser realizadas já, inadiáveis, são as tarefas “A”. Na nossa agenda assim devem aparecer classificadas. As que têm de ser desempenhadas hoje, mas não agora, de imediato, serão classificadas de tarefas “B”. As tarefas “C” serão as que podem ser desempenhadas quando houver oportunidade, pois a sua não realização imediata não afectará o curso dos acontecimentos. Este método simples fará com que hierarquizem e dêem prioridade ao que é essencial. Já agora, no final da jornada, convém pegar na agenda e fazer o balanço, reclassificar as tarefas pendentes, novas ou transitadas e preparar o dia seguinte.
E como lidar com aquelas interrupções contínuas que quebram a nossa dinâmica e atrapalham as nossas tarefas? Com um sorriso e voz amável, mas firme, deve dizer _ agora não posso prestar-lhe a devida atenção pois tenho de acabar esta tarefa, daqui a 1 hora, daqui a 10 minutos ou logo que acabe falaremos.
Com este simples método ficaremos com maior controlo sobre a nossa vida, com menos preocupações e com mais tempo livre para outras actividades também muito importantes relacionadas com a família, o lazer, a cultura o desporto…
E não vale a pena andarmos preocupados. Porque, tal como a palavra indica, andar preocupado é andarmos ocupados desnecessariamente antes do tempo. Quando controlamos o volante da nossa vida a pré-ocupação não faz sentido. Como somos responsáveis, já fizemos tudo o que era possível para enfrentar as situações do dia a dia.
Recapitulando, não nos deixemos confundir e misturar o essencial com o acessório. Para isso utilizaremos a chave A, B, C. Treinemos as tarefas essenciais ao nosso desempenho com estudo, prática e acumulação de conhecimento. Façamos o filme mental do nosso desempenho e realizemos mentalmente o alcance daquilo que pretendemos.
As ferramentas para sermos como os campeões e vencermos são: pensamento positivo, objectivos claros, uma agenda com tarefas devidamente hierarquizadas, muito trabalho, boa gestão do tempo e controlo de resultados. Se a sorte se juntar a estes ingredientes, óptimo, pois criámos todas as condições para que tudo funcione, com sorte ou sem ela.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Estou louco e não sabia.


Atravessava a Ponte 25 de Abril, à noite, a caminho de um encontro, em Almada, quando ouvi na TSF a seguinte notícia: ” um em cada três portugueses sofre de doença mental.” Olhei para o meu colega e perguntei-lhe se estava a ouvir bem. A notícia, baseada num estudo científico, chegava pela voz amiga do locutor da TSF: “ Um terço dos portugueses sofre de uma doença do foro mental”. Virei-me para o passageiro do lado e fui pensando em voz alta, daqui a pouco, quando estivermos os três reunidos, temos grandes probabilidades de um de nós estar passado da cabeça ou ser doente mental.Por isso penso que já estamos no bom caminho. Um terço de Portugal sofre da cabeça, na pior das hipóteses está à beira da loucura. Cumpre-se o ditado – de são e de louco todos temos um pouco. Na verdade, o povo é sábio e lá sabe o que diz.Acho que este estudo vem dar uma nova esperança aos portugueses. A loucura lusitana preenche o requisito que nos faltava para conseguirmos resolver os problemas do País e dos portugueses.Muitos problemas não se resolvem porque os olhamos sempre da mesma maneira, segundo ideias pré-definidas, com as soluções do costume. Havia um défice de loucura neste País.Imaginemos que tínhamos um ministro das finanças louco, que resolvia olhar para as questões dos impostos de uma forma diferente. Num dia, sem dizer nada a ninguém, colocava a informática a funcionar. Depois, passava uma esponja por cima dos impostos devidos pelos portugueses e pelas empresas, e colocava tudo a zeros. Ao mesmo tempo informava os portugueses e as empresas de que uma nova era iria começar. Após esse virar de página todos os prevaricadores veriam os seus bens confiscados de forma sumária. Resultados: retirava de cima dos portugueses e das empresas portuguesas um problema sem solução, tal qual a dívida dos países do Terceiro Mundo. Aliviava as finanças do peso do passado e viraria o País para o futuro. Por fim, de um dia para o outro, garantiria o alargamento da base de contribuintes efectivos. Como nota final, a despesa pública seria mais racional, reprodutiva social e economicamente, e sem desperdícios.Assim, um ministro louco, tirava uma grande parte dos portugueses da depressão, libertava uma nova energia tão necessária à economia.Mas o ministro seria imediatamente internado num hospital psiquiátrico, por estar louco.Quando alguns amigos dizem que podemos ganhar dinheiro com a indústria do lazer e do espectáculo, aliando a produção de conteúdos, sem subsídios do Estado, apenas com a cedência de equipamentos públicos mal aproveitados e com a utilização do know-how adquirido por alguns profissionais, então logo lhes é dito que estão loucos.Penso que foi isso que alguns pensaram de quem na Igreja permitiu a criação de uma rádio como a RFM numa rádio católica. Uma loucura que valeu liderança e rejuvenescimento de audiências, passando a mensagem da Igreja entre boas músicas. O mesmo sucedeu quando alguns dirigentes acharam possível ganhar a organização da Expo 98 ou do EURO 2004.Foi uma loucura. Mas conseguimos.“Apenas os paranóicos sobrevivem.”_ afirmou Andy Grove, D,G. da Intel e Tom Peters afiançou que “tempos loucos pedem organizações loucas”.Como eu gostaria que os membros deste governo pertencessem ao terço de loucos, imaginativos, empreendedores, visionários, capazes de tornar Portugal num produtor de bens e serviços úteis aos clientes externos, aumentando as nossas exportações, e criando riqueza e bem-estar interno para os seus nacionais.Este Portugal só tem cura quando os loucos derem asas aos seus sonhos.Não tinha noção de que havia tanta e tão boa matéria-prima em Portugal. É um desperdício não aproveitar a ousadia, a loucura de Portugal.Eu acho que estou louco. Desde que ouvi aquela notícia.Um terço dos portugueses sofre de doenças mentais. Estamos todos loucos. E não sabíamos.É estranho, mas faz sentido.Nota: Thomas Alva Edison, William Shakespeare, Isaac Newton, Benjamin Franklin, Claude Monet, Henry Ford, Bill Gates, Jim Clark, Steven Spielberg, Gianni Versace são alguns dos lunáticos brilhantes com a capacidade de inventar coisas que as pessoas desejam. Vide, Lunáticos e Psicólogos, pag 93-114, in O Futuro do Sucesso. Viver e trabalhar na Nova Economia, de Robert B. Reich. Editora Terramar.

terça-feira, dezembro 20, 2005

Como se come um elefante?



É nos momentos de crise que surgem as oportunidades. E, infelizmente para as vítimas, nos períodos posteriores aos grandes conflitos mundiais houve grandes inovações, mudanças positivas no papel desempenhado por alguns segmentos da população, como as mulheres, e surtos de inovação tecnológica e crescimento.

Os portugueses estão confrontados com grandes desafios à sua capacidade inovadora e empreendedora. Para uns é ao Governo central que cabe encontrar soluções.

Penso que chegou a hora do poder local afirmar-se e aproveitar esta janela de oportunidade. Parto do princípio que a soma das partes faz uma todo. E que se cada parte contribuir positivamente para esse todo o somatório será proveitoso para todos.

Portugal Positivo. Autarquias por Portugal. São duas ideias-chave de um movimento que deveria ser lançado pelos autarcas, encabeçado por autarcas modelo deste país, e que traçaria as metas para uma governação mais eficaz, criativa e criadora de riqueza em cada concelho.
Os autarcas têm agora a oportunidade de olhar para o seu território e definirem de forma séria e realista os seus pontos fortes e potencialidades. O critério é simples: criação de riqueza local, fomento de novos empregos, captação de investimentos e receitas do exterior, racionalização de gastos e maior transparência e aproximação dos serviços da autarquia aos cidadãos, desburocratizando, desmaterializando processos e simplificando a vida às pessoas e às empresas.

São meia dúzia de critérios simples que podem ser aplicados na obtenção de resultados simples e à medida de cada concelho.
As paisagens estão aí, basta cuidar e tirar partido delas. Os produtos tradicionais existem, basta saber potenciar a sua venda e entrada no mercado de forma sustentada e sem rupturas. As pessoas estão aí, à procura de oportunidades de trabalho, de requalificação, de novos sítios para se radicarem e realizarem os seus projectos de vida.

O poder local e regional pode ser a chave para darmos a volta ao grande problema de Portugal. É na acção e nos seus resultados que se conquista o espaço reivindicado, a capacidade de influenciar. Ninguém dá nada a ninguém, chamem-lhe regionalização, descentralização, associações inter-regionais.

Senhores autarcas. Futuros autarcas. Olhem com exigência, inovação, ambição e capacidade empreendedora para os vossos territórios. Façam felizes os vossos cidadãos e munícipes. Evitem que eles fujam dos vossos municípios, transmitam a cada força viva da sociedade local uma ideia mobilizadora.
Como seria bom ouvir e sentir o poder local a dizer Presente. Portugal pela Positiva. Nós, autarcas, estamos a contribuir para resolver o nosso grande problema de falta de emprego, de aumento de exportações, de qualificação das pessoas, de aumento de qualidade de vida das famílias.
Tal como um grande problema, um elefante come-se aos bocadinhos.
Boa digestão.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

A lei de Pareto: um presente de Natal




A questão portuguesa, o problema dos portugueses, as ameaças ao desenvolvimento de Portugal, não é a globalização. O ponto crítico dos portugueses, com cada português, está no rumo que, individualmente, conseguirmos dar à nossa vida.

Imaginemos uma grande onda que emerge num oceano chamado globalização. O surfista aproveita a dinâmica e a energia da onda e, com agilidade e determinação, desliza na sua crista dirigindo-se para a costa. O homem da prancha transforma ondas ameaçadoras em aliadas que o empurram, com prazer, para os seus objectivos.
Como podemos nós agarrar a nossa onda e atingir as nossas metas individuais?
O Princípio de Pareto, desenvolvido pelo economista italiano Vilfredo Pareto, em 1895, aplica-se a todos os campos da vida e ajuda-nos a encontrar a nossa onda e a fluir a vida, comandando-a.
A gestão do tempo é um dos obstáculos onde tropeçamos mais nas nossas vidas. Não somos pontuais. Dispersamo-nos. Gastamos tempo demais no local de trabalho. Esbanjamos tempo e somos uns chatos.
Pareto diz-nos que 80 por cento dos nossos resultados resultam de apenas 20 por cento daquilo que fazemos. De todo o tempo que trabalhamos, os 80 por cento de resultados positivos que conseguimos resultam de apenas 20 por cento do tempo global dispendido. Tem graça.
Alargando o alcance do mesmo princípio, o caminho para termos uma produtividade elevada começa por conseguirmos identificar os 20 por cento mais importantes de todas as tarefas e actividades que desempenhamos.
Aplicando o princípio às nossas vidas, teremos de perceber quais são aquelas capacidades e conhecimentos que são essenciais para vencermos no nosso dia-a-dia. No mundo do trabalho, quais são a qualificações mínimas necessárias para podermos prestar serviços de qualidade e nos mantermos activos? Será o saber gerir o nosso tempo? Será sabermos traçar objectivos? Definir metas? Será dominarmos o raciocínio matemático? Será sabermos operar os sistemas informáticos? Será o domínio do inglês escrito e falado? Será termos uma sólida formação sobre história nacional e universal? Será possuirmos bons hábitos de leitura? Será desenvolvermos o gosto pelo desporto?
Será termos bons hábitos de cidadania? Será sabermos tudo sobre a área específica em que actuamos?
Uma grande parte dos portugueses anda confusa e dispersa. Ainda não conseguiu escolher os 20 por cento de capacidades essenciais, não seleccionou os 20 por cento de actividades nas quais deve concentrar os seus esforços, não percebeu quais são os 20 por cento de metas para atingir os 20 por cento de objectivos essenciais que vão permitir os 80 por cento de resultados que significam vencer e ter sucesso pessoal.
Mas é bom ficarmos cientes de que os resultados que procuramos devem ser conseguidos em tempo útil, e são eles que medem a eficácia da nossa acção.
O pensamento, a nossa capacidade de pensar bem e desenhar o nosso futuro, interiormente, vão ditar a materialização dos resultados que queremos. E estamos a falar de realização pessoal, de uma família feliz, de um emprego que nos realize, de um patamar de rendimentos monetários, de conseguir meios para alugar ou comprar uma casa, de conseguirmos educar os nossos filhos, etc. A qualidade da nossa vida é determinada pela qualidade dos nossos pensamentos. Se pensarmos bem, melhores serão os resultados que obtemos. Por isso não podemos deixar a nossa vida entregue à sorte ou à acção de terceiros.
Devemos traçar objectivos claros e específicos. Estes devem ser decisivos, importantes, susceptíveis de serem medidos, num prazo determinado. Para que a nossa vida dê certo, temos de tomar a iniciativa, de mantê-la e explorá-la. Podemos falhar, sim. São os mais bem sucedidos, aqueles que mais agem, os que falham mais vezes. Mas retiram das falhas os ensinamentos para o futuro. Quando temos metas e sofremos uma queda, caímos sempre virados na direcção das metas que procuramos atingir. É o princípio da iniciativa e da ofensiva. Devemos concentrar todas as nossas capacidades e forças num objectivo, durante o tempo certo. É o princípio da massa. O resto é desperdício, é perda de energia e de tempo. Mas os obstáculos e a resistência vão acontecer. Perante eles há que não perder a flexibilidade e aplicar o princípio da manobra. Temos de ser capazes de analisar as situações e adaptarmos a nossa estratégia e plano de acção aos novos condicionalismos com que nos deparemos. A incapacidade de adaptação é um factor de frustração e de insucesso pessoal e profissional. Isto obriga a uma grande nitidez nas metas e objectivos traçados, a par de uma grande flexibilidade nas formas de atingi-los. Por isso devemos conhecer muito bem o terreno em que nos movemos e conseguir recolher informação que nos dê o conhecimento, a principal fonte de valor acrescentado nas nossas vidas. Aos governantes cabe ajudar o esforço individual de cada um e aplicar os mesmos princípios às políticas de desenvolvimento do país, na educação, na economia, na política, na internacionalização, na formação contínua dos cidadãos, na imigração, na investigação e desenvolvimento, na administração pública.
Espero ter conseguido entregar-vos a prenda de Natal que o senhor Vilfredo Pareto vos oferece.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Impressões de uma visita a um hospital público




Durante a Páscoa de 2004 fui visitar um hospital público, em Lisboa. Corria nos Açores a longa pré-campanha das eleições regionais, interrompida pelas eleições europeias.

A primeira impressão do Hospital, para além dos medos que a circunstância causa, foi de algum desconforto. Ao atravessar as portas deparo com um edificado envelhecido, do tipo colonial, onde diversos edifícios, separados por caminhos e vielas, aparentemente cansados, me iam anunciando as diversas especialidades.

Diagnóstico feito, sentença traçada: operação cirúrgica para extrair algo que já tinha ultrapassado o seu prazo de validade.

Fiquei três dias. À primeira impressão foram-se substituindo outras. Senti tratamento humano, carinho e profissionalismo. Tudo foi feito no tempo psicologicamente certo, com rigor. Uma enfermeira sentou-se no cadeirão ao lado da minha cama e, sem pressas, solicitou-me que perguntasse tudo o que quisesse saber sobre a intervenção. De seguida, preencheu um formulário e despediu-se com um até mais logo. _ Lá estarei à espera e a acompanhá-lo.

No entretanto, dou de caras com o conhecido Eduardo Barroso, inconfundível - o chefe clínico, o comentador desportivo, o cirurgião – andava, atarefado, pelos corredores. Numa sala de visitas reencontro, completamente transformado, emagrecido, uma figura são-tomense, conhecida da política da ilha e da noite africana lisboeta.
Enquanto espero, deitado, sem que os meus parceiros se apercebam de nada, vou trabalhando ao telefone. Com o realizador Nuno Teixeira acerto a finalização do tempo de antena de Paulo Casaca, ausente no Iraque. Trato ainda de outros assuntos que deixara em andamento em Ponta Delgada. É a sociedade da informação. Não há limites, nem entraves, nem tempo, nem distâncias, nem juízo…

Fui submetido à intervenção. Respirava-se profissionalismo, simpatia, sentia-se que tudo estava organizado no Bloco. Cada pessoa estava compenetrada do que tinha para fazer e ainda tinha tempo para uma palavra simpática. Só me lembro de uma última pergunta_ Quer que grave a operação?

Acordei e estou numa sala de recobro, com uma equipa de batas brancas por perto. Mal distingo as figuras enevoadas aos pés da cama. Oiço uma voz: _ Correu tudo bem. Adormeço.
Já na enfermaria esta rotina de profissionalismo e atenção vai afirmando uma tendência.
No quarto, no leito da frente está um rapaz em mau estado. Havia festejado com tanta intensidade o golo do Benfica que acabara por cair de um muro abaixo. Ossos partidos, cara amassada, problemas internos, tudo por causa de um golo. Ao lado, um pobre coitado transportava um “feixo-eclair” que lhe fechava a barriga, do externo até mais abaixo do umbigo. O outro companheiro, homem alto, lá ia ditando as suas sentenças:
_ Este isto, aquele não se safa, eu …

Eis que chega o dia da saída. Passados alguns dias regresso ao hospital para retirar os pontos. O padrão mantém-se: profissionalismo, simpatia, competência.

De lá para cá tenho falado com pessoas que por lá passaram e a opinião é unânime. Do melhor.

Fui agradecer ao director do hospital, Pedro Canas Mendes. O homem pega em mim e leva-me pelos jardins. Mostra-me a Capela a acabar de construir. Apresenta-me o Capelão, com quem cuida dos ânimos e estados de espírito dos doentes. Aponta-me um dos tratadores do jardim, retirado das ruas do desemprego e da vagabundagem e que agora anda ocupado a tratar dos espaços verdes do hospital.
Canas Mendes, entusiasmado, com o brilho de quem gosta do que faz espelhado nos olhos, conta-me como arranjou dinheiro para determinado equipamento, como não pode largar na rua 15 velhotes sem família e que vivem no hospital. Explica-me as pequenas histórias de sucesso que é salvar vidas… pelo caminho continua, sem parar, a cumprimentar e a falar com funcionários, doentes e corpo clínico. Tom Peters , o guru americano da gestão fala neste tipo de gestores que sabem gerir fora do gabinete.

É um hospital público, sim senhor - é o Curry Cabral, em Lisboa.

É um hospital idoso, bonito por fora e por dentro. Com alma. É como um idoso simpático, que ao fim de dois tempos de convívio faz-nos esquecer as rugas da sua cara. O Curry é jovem, é dinâmico, e funciona bem, e consegue ser humano e ter acção de âmbito social, e cooperar com os Palops, e ainda está na linha da frente no que diz respeito ao exercício da medicina. O Curry consegue ser pioneiro nas compras electrónicas, ser bom nos transplantes hepáticos, e obter rácios de gestão hospitalar dos melhores do país, entre muitas outras distinções. Nós, os doentes, sentimos que esses rácios fazem sentido, fomos bem tratados. Temos confiança.
Só espero que o Dr. Canas Mendes não resolva tão cedo dar uso à sua casa nos Açores, no Pico, terra de que tanto gosta, e continue a satisfazer os seus utentes e, porque não, o “accionista único” - o Estado.

Bem hajam.

terça-feira, dezembro 13, 2005

Os patos e a preocupante dupla personalidade


Andamos com comportamentos esquisitos e contraditórios. Achamos normal, banal, passamos para segundo plano a fome sofrida por milhões de pessoas lá fora, noutros países. Entrou na normalidade, já não nos tira o sono o facto de morrerem milhares e milhares de pessoas em guerras regionais, em actos terroristas, em conflitos da mais diversa ordem. É lá longe, bem longe das nossas fronteiras. É uma indiferença, um grau de insensibilidade que nos afecta a todos, cidadãos-telespectadores, cidadãos tecnologicamente do mundo. A guerra, a fome, a doença, as ditaduras, as violações do direito internacional entram nas nossas casas, convivem bem com as nossas consciências e espíritos, já não nos desinquietam, antes nos entorpecem. É a globalização que nos trás o mundo em cada instante, que nos leva a ele a cada momento, mas que nos deixa ficar impávidos e serenos nos nossos sofás, no nosso quotidiano. Estamos erradamente certos de que dali não vem nada de mal ao nosso mundo. Vivemos no estádio da indiferença.

Por outro lado, andamos inquietos com a insegurança no trabalho, ameaça de desemprego que toca a amigos e familiares, com a incerteza das reformas no futuro. Temos horror, sentimos medo perante a reviravolta que o nosso País levou. Já não há empregos para a vida. Os cursos e o canudo já não garantem ocupação condigna. A insegurança, a toxicodependência, o medo da exclusão social já não nos deixam dormir descansados. Em nossa casa estamos inseguros. Há medos para todos os gostos: de ser rejeitado, de engordar, de não saber educar os filhos, de não ser sexy, como o diz José Gil em, “Portugal, Hoje. O Medo de Existir”, Relógio d’Água. Vivemos no estádio do medo.
É um paradoxo dos tempos, do tele-mundo, do info-mundo. Talvez apenas uma realidade de todos os tempos do homem, agora mais exposta
Como é possível aceitar, com indiferença, esta dicotomia de personalidade, de sensibilidade selectiva perante situações igualmente reprováveis e causadoras da degradação do ser humano? Porque o mundo que nos chega pelo ecrã, embora carregado de desgraça e sofrimento é também divertimento. Marcamos a presença e a ausência em simultâneo, o que nos permite, irresponsavelmente, abstrairmo-nos do real que ocorre na outra parte do Globo, na casa dos vizinhos, esquecendo que voamos apenas em lugares diferentes da mesma nave.

Há que ponderar este comportamento e criar mecanismos de cidadania mundial que nos permitam encarar os nossos semelhantes como portadores dos mesmos direitos pelos quais nos batemos internamente e cuja ameaça nos faz ter medo, quando nos toca.

Não me parece que a Globalização seja a causa desta indiferença perante o sofrimento de terceiros. A causa está em nós, seres cada vez mais virados para o eu. Como implementar à escala planetária, em cada cidadão, os valores que dignificam a pessoa e a vida humana. Sem eles seremos cada vez menos livres.

Ou será que só pensaremos neste fenómeno quando nos entrar um pato constipado, vindo da Ásia ou de África, pela janela adentro da nossa casa, a pedir um lenço para assoar-se. Esse pato, anda no ar, aproveita os ventos favoráveis, pode aparecer de diversas maneiras, sobre a forma de imigração ilegal, de tensões entre raças, de doenças transportadas por diversas fontes, de deslocalização de empresas para locais onde os direitos sociais e laborais são esquecidos. Há múltiplas formas que podem provocar um Tsunami como retorno da nossa indiferença enquanto seres que habitam nos países ditos mais desenvolvidos.

Silêncio, que vem aí uma sondagem


Perceber o que pensam os cidadãos é a suprema ambição dos políticos. É um exercício que interessa a jornalistas, a académicos, a empresários e a todos nós, cidadãos.
Uma sondagem é uma fotografia instantânea. Ela apenas responde às perguntas que fizemos, no passado, a um determinado número de pessoas, seleccionadas segundo critérios previamente definidos. Quando vamos ao médico-analista fazer análises ele não nos retira o sangue todo do organismo para analisar o estado da nossa saúde. Os especialistas em sondagens também só retiram uma amostra a todo o universo em estudo. Falar em tempo útil com todos seria quase impossível, por questões financeiras, técnicas, e um esforço desnecessário.

E aqui começam os cuidados e os problemas.

Damos por adquirido que a entidade que realiza os estudos é credível e competente.

A amostra seleccionada tem de dar garantias de ser representativa da totalidade do universo em estudo. O número de pessoas incluídas na amostra deve ser definido em função do grau de certeza e fiabilidade que pretendemos obter nos resultados. As pessoas sondadas devem ser escolhidas para que no seu conjunto a amostra espelhe a realidade do todo, permitindo, depois, considerarmos que as conclusões do estudo se aplicam ao universo em análise. Poderemos estar a falar de uma amostra representativa de cidadãos eleitores, de jovens, de mulheres, de desempregados que vivem em Portugal, nos Açores ou num determinado concelho. O correcto conhecimento do universo em estudo e a composição da amostra é um factor crucial para levarmos a sério uma sondagem. Por outro lado, as metodologias de recolha das opiniões também devem ser ditadas de acordo com as características do universo: podemos ouvi-las por telefone fixo ou por inquérito presencial. São escolhas que têm implicações a vários níveis.


O momento supremo de uma sondagem é o do seu conhecimento público, mais ou menos alargado. Entramos numa fase em que todo o cuidado é pouco na análise e utilização dos resultados de uma sondagem. Temos de ter sempre presente que a sondagem retrata o passado, que os seus resultados apenas demonstram, com determinado grau de probabilidade, o que pensavam sobre as questões propostas os inquiridos e que não encerram nenhuma verdade absoluta e acima de tudo imutável.
É legítimo tirar tendências de um conjunto de estudos. Podemos tentar perceber motivações e anseios das populações. Podemos até saber o grau de satisfação dos cidadãos. A nossa experiência até nos pode levar a dizer que as tendências e motivações dos cidadãos estão consolidadas num intervalo minímo de oscilação.

Muitas vezes ouvimos dizer que há quem manipule as sondagens para influenciar os cidadãos. É uma insensatez e uma inutilidade. Primeiro, porque vivemos num mercado concorrencial. Depois, porque prejudica a reputação de quem o faz e, por último, segundo estudos existentes, porque a eventual vantagem da manipulação não existe.

Perante os resultados de uma sondagem devemos colocar algumas interrogações: Quem é o dono da sondagem? Quem realizou a sondagem? Qual o universo em estudo? Qual a amostra? Qual a margem de erro? Nível de confiança? Quando foi feita? De que modo? Temos de olhar e perceber a ficha técnica.

Dizer que a força política “A” tem 43,1 % de intenção de voto e que outra, “B”, terá 26,0%, e que a abstenção é de 40,3 %, apenas pode e deverá ser entendido que no passado dia tal, do mês tal, e para uma margem de erro de, por exemplo, 3%, a força política “A” poderia colher dos portugueses uma votação situada entre 40,1% e 46,1% e a força “B”, uma votação situada entre 23,0% e 29,0%. Este mesmo facto também torna erróneo dizer-se que A ou B desceram ou subiram 2%, de ontem para hoje, pois andamos num intervalo de 6% de variação. O mesmo para a abstenção. Mas desde que os resultados são produzido muita água corre e as coisas poderão ter mudado. Cabe aos líderes agirem para afirmar ou infirmar as tendências.

Licenciatura de caçador de dinossauros


Periodicamente reúno um grupo de amigos para jantar e debater um tema. O último encontro foi dedicado aos engenheiros, à engenharia portuguesa e o meu convidado foi António Segadães Tavares. Pois é, não sabe quem é? Tubo bem.
Presentes estavam amigos de diversas profissões e áreas de actividade, juristas, economistas, consultores, professores universitários, homens da rádio e da televisão, alguns políticos.
Ficámos a saber que o orador tinha, entre outras realizações, projectado e calculado a estrutura da nova pista do Aeroporto da Madeira. Por acaso, também foi ele quem fez os cálculos de engenharia para o Pavilhão de Portugal, implantado nos terrenos da Expo 98, incluindo a obra de arte que foi garantir a exequibilidade estrutural da célebre Pala do referido edifício, desenhada por Siza Vieira.
O Segadães, ainda jovem, depois de ter terminado o curso, em 1968, como melhor aluno do ano, o que lhe valeu o Prémio da Fundação Engenheiro António de Almeida, foi convidado para fazer directamente a tese de doutoramento no Massachusetts Institute of Technology - MIT. Participou, nos Estados Unidos, na solução de obras de engenharia batendo-se, de igual para igual, com os seus congéneres norte-americanos.

Em 2004, António Segadães Tavares foi o primeiro português a ganhar o "Nobel" da Engenharia de Estruturas, com a ampliação do aeroporto da Madeira, prémio "Outstanding Structure Award 2004" (OstrA), atribuído pela "International Association for Bridge and Structural Engineering" (IABSE).
Pois é, continua a não saber quem é este homem, também professor universitário, no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, para quem “ uma expressão matemática é bela e é funcional” e que mantém uma reserva quando começa a ver coisas confusas e complicadas. Ele é um homem prático, que adora conversar, dançar, ler, ouvir música, viajar, cozinhar para os amigos e andar de barco.
Este engenheiro traçou de forma rápida os momentos altos da nossa engenharia, quando dávamos cartas, quando exportávamos conhecimento nesta área, quando ele desenvolvia, como ainda teima em fazê-lo agora, o software necessário para os seus projectos de engenharia e garantes do rigor das suas obras. Ele fica triste porque constata que agora perdemos essa capacidade de produzir e vender conhecimento, importando as soluções e os sistemas, alguns deles com graves lacunas, de Espanha, da Áustria e de diversas partes do mundo, com as actualizações necessárias ao bom prosseguimento do negócio de alto valor acrescentado de importação de programas.
E eis que chegámos aos dois pontos sobre os quais interessa meditar. Temos um Nobel da engenharia, que ninguém conhece. Que três meses após a distinção mundial, ninguém havia reparado em qualquer referência ao facto na Comunicação Social, não fosse a Ordem dos Engenheiros ter lançado mãos à obra e feito o seu dever. Dar a conhecê-lo.
E, segundo ponto, quando em Portugal tanto se fala em qualificar, em exportar produtos e serviços de alto valor acrescentado, em contraponto aos resultantes da utilização de mão-de-obra intensiva. Quando se procuram exemplos de competência e capacidade empreendedora, não aproveitamos a obra deste e de outros homens para motivar os jovens e levantar a nossa auto-estima e confiança.
Já não falo, como foi referido no jantar, que alguns projectos de vulto têm para os portugueses excessivas limitações orçamentais, obrigações de utilização de software e soluções importadas, quando, para outros, vindos de fora, com iguais qualificações, pelo facto de serem estrangeiros e defenderem melhor os políticos das críticas domésticas, não há orçamentos, nem concursos.
Pois é, continuamos a desperdiçar competências, exemplos, conhecimentos e oportunidade de construir riqueza numa das áreas tecnológicas de maior valor acrescentado.
Como diz o Segadães,”continuamos a ter licenciaturas de caçador de dinossauros”, no final das quais e perante a falta de emprego, se criam mestrados de caçador de dinossauros e, perante o resistente desemprego, se fazem doutoramentos de caçador de dinossauros. E, como já não há dinossauros, os doutores são aconselhados a serem professores de licenciaturas de caçador de dinossauros. Num ciclo vicioso a pairar sobre o abismo. Valha-nos o LNETI, como instrumento para o tão apregoado choque tecnológico. Ou será que nem ele tem forças para nos valer.

Há um problema de comunicação com o Governo


Terminaram as eleições autárquicas. Nada de novo e de especial a assinalar. Confirmaram-se as previsões de maus resultados para o Partido Socialista, as excepções confirmam e não infirmaram os prognósticos. A CDU resistiu bem e a moda Bloco de Esquerda continua aí, atraindo o voto de protesto, da diferença, de quadrantes diferenciados da população. Esta situação vai manter-se enquanto os partidos tradicionais, mais velhos, não encontrarem formas adequadas de comunicar com estas franjas de eleitorado. O PSD, numa análise global, é o grande vencedor! Desta vitória não vem mal algum a Portugal, antes pelo contrário.

Os fenómenos desta campanha também não espantam. A forte ligação emocional dos candidatos-com-problemas às populações dos seus concelhos, o oportuno abandono a que foram votados pelos partidos que os albergaram durante anos e anos, partidos que os colocaram em montras e em lugares de destaque, gerou um sentimento transversal de apoio por parte de grande parte do eleitorado desses concelhos, dando-lhes vitórias. A lição que fica é que ninguém pode ser transformado em besta, depois de ter sido tantos anos bestial. O mesmo sucederia a Alberto João Jardim se um novo líder, repentinamente o quisesse afastar das lides políticas. O princípio da coerência é fundamental para percebermos estes fenómenos. Apenas um falhou o objectivo. E falhou também por não ter sido coerente e ter ido para território desconhecido, a que se juntou, de forma visível, uma grande força opositora das elites, da opinião publicada e da imprensa.

Resta-me introduzir aqui a questão comunicacional ao nível do Governo. Penso que é unânime a opinião de que o Governo e o Eng.º Sócrates mantiveram a coragem e determinação de continuarem as cortar a direito, a tomar medidas duras contra privilégios, mesmo durante a campanha eleitoral. Não cedeu aos interesses partidários. Justiça lhe seja feita. Senti na pele dos meus clientes do PS os efeitos da sua determinação.

Mas o que importa, no que diz respeito à comunicação com os cidadãos, é deixar bem claro que este Governo está a falhar na comunicação com os portugueses. Sócrates tem de explicar muito bem a razão das suas medidas, as mordomias que está a colocar em causa e a tentar acabar, e os benefícios para todos os portugueses das suas políticas. Não o tem feito bem.

Ninguém percebe ao certo, a não ser ele, o Ministro e a sua equipa, e mais meia dúzia de bem informados, porque há uma guerra aberta contra o Governo no sector da Justiça. Ninguém percebe bem porque os funcionários públicos, os professores e outras classes profissionais se sentem ameaçados. Ninguém percebe bem, de forma clara, porque se mexe no tempo das reformas. Não, Senhor primeiro-ministro, o senhor que até fala claro, não está a conseguir falar claro. O ensino de uma criança não passa apenas pela reguada, e quando há reguada há-de chegar o tempo de fazer perceber a razão do sofrimento. Caso contrário a reguada reiterada, sem percepção do objectivo, levará a um comportamento desviante.

O Governo tem ainda todo o tempo do mundo para iniciar um diálogo mais esclarecedor com os cidadãos, apontando-lhes o ponto de chegada e fazendo luz sobre o futuro.

E já agora, pense como vai descalçar a bota das presidenciais em termos comunicacionais. As candidaturas presidências até são candidaturas de pessoas e não de partidos, facto que lhe pode facilitar a vida. Em termos comunicacionais, bem entendidos. Não gostava de estar na pele do político José Sócrates, pois nesse plano as coisas vão ser mais complicadas.

Mas os grandes políticos revelam-se nas dificuldades e nas soluções que encontram para as superar.

Um gesto gigantesco e poderoso

Há gestos que fazem mais do que mil palavras. São atitudes de gente comum, de cidadãos comuns, mas que nos conseguem comover e arrancar da nossa indiferença. Comovem-nos, fazem-nos pensar e levam-nos a agir de forma diferente perante a adversidade.
A família de Ahmed Al Khatib, um jovem palestiniano de 12 anos, alvejado mortalmente, na passada semana, por soldados israelitas, decidiu doar os órgãos do filho a seis cidadãos de Israel. Hoje, os órgãos do jovem palestiniano foram implantados em israelitas. O coração bate no peito da menina Samah Gadban, de 12 anos. O fígado foi partilhado entre um bebé de seis meses e uma mulher de 56 anos. Os pulmões foram transplantados num menino de cinco anos e numa rapariga de quatro anos. Os rins beneficiaram um menino de cinco anos.
Não sei se os pais de Ahmed pensaram, para além de estarem a ajudar a salvar vidas, no alcance que a sua acção pode ter na aproximação entre os cidadãos das duas nações. Ao longo da existência da humanidade, quando nos sentimos impotentes perante a grandeza da crueldade da vida, da irracionalidade dos ódios étnicos, insignificantes perante os grandes desígnios geo-políticos, há cidadãos que mudam o rumo dos acontecimentos com atitudes simples.
É esta luz que cai inesperadamente nos nossos caminhos que nos faz dar passos mais seguros rumo a um mundo melhor e mais justo.
Não podia deixar de assinalar este gesto, representativo de muitos outros que nunca chegam ao nosso conhecimento. O ser humano, apesar daquilo que tem de mal, de irracional, é uma potencia do bem, com muito para dar ao seu semelhante.
Este é um exemplo de vida. Faz lembrar a história de dois prisioneiros fechados na mesma cela. Um, sempre sorridente, sem rancor nem ódios. Outro, sempre triste, de cabisbaixo, revoltado. Perguntados sobre a razão dos dois comportamentos e estados de espírito diferentes. Um disse, que olhava sempre, pelas grades, para as estrelas que lá fora brilham. O outro, não retirava o seu olhar do chão agreste da cela.
Uma palavra para os avanços da ciência e da tecnologia que quando pensada para servir o homem permite estas maravilhas de vida. São avanços que nos permitem acreditar sempre na capacidade do homem superar as contrariedades e dificuldades do seu tempo, aumentando a esperança de vida de muitos cidadãos. Massificando, melhor, democratizando e permitindo o acesso à saúde e qualidade de vida a muitos mais cidadãos do nosso mundo.
O que ressalta entre o necessário gesto de Bil Gates, que doa milhões de dólares para a cura e tratamento da malária no Mundo e o simples, mas grandioso gesto da família de Ahmed, é uma característica comum a todos nós, que deve ser potenciada em cada dia. Todos nós temos a possibilidade e os meios de poder fazer mais felizes os nossos semelhantes.
Como especialista em comunicação acho que não teria sido capaz de pensar num acto tão simples e tão forte de aproximação entre dois povos, de conceber um sinal de paz, fraternidade e liberdade, como foi o da família de Ahmed e do corpo clínico.
Vale a sempre a pena viver para participar e comungar destes momentos de vida.

Falar para o boneco

Há alguns parâmetros de racionalidade e profissionalismo que podem melhorar o desempenho das candidaturas autárquicas. Quero dizer que os aspectos que se prendem com os diagnósticos, a selecção de candidatos, a escolha de temas de campanha e a organização das equipas das diversas campanhas devem ser mais ponderados pelos partidos políticos e as diversas candidaturas.

Da minha experiência e observação das autárquicas, poucos foram os casos em que a escolha dos candidatos autárquicos foi precedida de estudos para aferir da sua adequação ao mercado eleitoral. O resultado desta inexistência é o aparecimento de candidatos autárquicos que não correspondem ao perfil desejado pela maioria dos cidadãos. As máquinas partidárias ou escolhem candidatos sem carisma e com défice de credibilidade ou indicam tecnocratas e pessoas altamente qualificadas mas que não conseguem assumir o seu papel de políticos e galvanizadores de projectos colectivos.
Neste plano exige-se uma maior capacidade de escolher pessoas preparadas para traçar rumos e definir políticas e simultaneamente capazes de coordenar equipas e dialogar com os eleitores, transmitindo-lhes confiança e sintetizando ideias e objectivos.
Passando ao patamar seguinte, o resultado do diagnóstico frio e profissional exige um investimento inicial na caracterização da situação concelhia, do desempenho camarário, a aferição dos pontos fortes e fracos dos adversários. Só este trabalho permite a selecção das ideias-força que vão permitir a afirmação do programa e da equipa de uma candidatura. E podemos ir mais além com o controlo continuado do desempenho, permitindo a correcção de rotas ou a sua afirmação.

Já em matéria de organização das campanhas os quadros políticos dos diversos partidos são um deserto em termos de recursos e competências, ficando muitas vezes reféns de lógicas redutoras e auto destrutivas, que dificultam a mobilização das forças vivas das sociedades locais e dos mais capazes de cada agrupamento político. Os políticos ainda não perceberam que a boa organização, disciplina e a distribuição de competências e responsabilidades são fundamentais para o sucesso das suas candidaturas.

Por isso não nos devemos admirar que possam ter acontecido alguns revezes eleitorais por parte de algumas candidaturas cujos candidatos se mantiveram alheios e temerários aos contactos com as populações ou que outros tenham estado a falar de assuntos que não constavam do cerne prioritário das preocupações dos eleitores.

A lição que fica é que, mais do que o folclore eleitoral, o que mais importa é introduzir um maior profissionalismo na prática classe política. Profissionalismo não é mais do que saber escolher os candidatos mais capazes, as equipas mais eficazes, os temas mais adequados para a organização mais eficiente das campanhas eleitorais.

Não são as toneladas de propaganda, a profusão de informação, a acumulação de eventos políticos, os improvisos e gastos irracionais de última hora que garantem, por si só, bons resultados eleitorais.

É caso para dizer que houve muita gente a falar para o boneco nestas últimas eleições autárquicas.

Obrigado. Obrigado. Obrigado.


Já nos desabituámos de agradecer. Andamos atarefados entre o trabalho e a nossa casa, perdidos no trânsito dos carros ou da net, preocupados com tudo, e com nada. Por vezes andamos distraídos. Afinal a vida é feita de pequenos nadas. Agradecer, dizer obrigado, é dar confiança aos outros, e faz-nos bem. Obriga-nos a partilhar, a ser humildes, a criar espírito de equipa. Mais não fosse, a ser educados.
Vem isto a propósito de três agradecimentos que aqui quero deixar, dois mais próximos e outro mais longínquo, que me chegou pela leitura.

A minha última revolução

Ontem fui despedir-me de um homem que conheci em 1985. Foi numa altura em que participei na minha última “conspiração-revolução”, a ocupação da Universidade Livre e a criação de uma nova universidade, a Universidade Lusíada. O Professor Motta Veiga, sereno, rigoroso, de algum modo distante, simbolizou o equilíbrio, a autoridade académica que permitiu à Universidade afirmar-se. Recordo-me, de acompanhado de um outro velho amigo, o professor Agostinho da Silva, sim, o do Quinto Império, estarmos no gabinete do Reitor a explicar-lhe, e a Martins da Cruz, porque estava a chegar o tempo da Lusíada abrir as suas portas em Angola e Moçambique. Era a aposta no conhecimento, num regresso mais positivo e de longa duração para todos. Ontem, estive lá, para dar um abraço à família lusíada, ao filho, para lhe agradecer o contributo que deu ao nosso projecto de estudantes e professores. Revi amigos, antigos e novos. Obrigado Professor Motta Veiga. Espero que o seu testemunho seja transmitido às novas gerações e que os novos consigam fazer uma nova revolução na universidade portuguesa. Uma mudança mais exigente e difícil, que crie uma elite útil ao País e capaz de trabalhar em qualquer parte do mundo e se sentir realizada.

Gerindo para o futuro

Obrigado Peter Drucker. Ele abriu-me caminhos de reflexão sobre caminhos da gestão e das organizações. O que me marcou foi a luz e a análise que dedicou à actividade das organizações sem fins lucrativos nos Estados Unidos da América. Viu nos escuteiros, na Cruz Vermelha americana e nas igrejas pastorais os líderes americanos da gestão. Na estratégia e na eficácia reconheceu-lhes a prática apenas apregoada pela maioria das empresas americanas. Na motivação e na produtividade dos trabalhadores destas organizações assinalou o seu pioneirismo nas políticas e práticas que as empresas teriam de aprender. Em 1992 o sector sem fins lucrativos era o maior empregador dos EUA. Um em cada dois adultos, 80 milhões de pessoas, trabalhava como voluntário, oferecendo em média cerca de cinco horas semanais. E, o maior elogio a estas organizações “começar pela missão e as suas exigências é a primeira lição que as empresas podem extrair das organizações sem fins lucrativos bem sucedidas. A missão orienta a organização para a acção, define as estratégias específicas para atingir as metas cruciais e cria uma organização disciplinada, o que evita a dispersão dos seus sempre limitados recursos em coisas que parecem interessantes, ou que parecem rentáveis, em vez de os concentrar num número muito pequeno de esforços produtivos. Uma missão bem definida serve de lembrança permanente da necessidade de olhar para fora da organização, não apenas para os “clientes”, mas também para as medidas coroadas de êxito.” Drucker morreu aos 95 anos. Obrigado pelos ensinamentos sempre actuais.
Quantos gestores de topo reformados, quantos quadros superiores, quantas pessoas podem em Portugal associar-se e colocar o seu saber, o saber fazer e a vontade para melhorar um aspecto menos positivo do nosso País. As crianças, os jovens, os idosos, os deficientes, os doentes, os desempregados, todos nós beneficiaríamos com a sua acção, que não se pode deitar fora antes de tempo.

Obrigado Lisboa

Os MTV foram conquistados por Lisboa. Tudo começou de forma informal: um afoito e determinado telefonema de Lisboa para a presidência dos MTV despoletou os acontecimentos. Seguiu-se a chamada para o processo das autoridades competentes da autarquia e nacionais do turismo. Uniram-se esforços e seguiu-se uma apresentação formal da candidatura do Pavilhão Atlântico. O sonho materializou-se e o espectáculo global aconteceu. Durante meses Portugal andou na boca de mais de um bilião de pessoas. O espectáculo foi um sucesso. Demonstrámos, na Expo, que somos bons na organização de eventos e na arte de bem receber. Esta semana Lisboa e a autarquia receberam o prémio e o reconhecimento das mãos de um dos presidentes da MTV. Obrigado Jaime. Dizer obrigado tem uma força impulsionadora para todos nós.

Todos iguais. Todos diferentes. Mas em liberdade.


É necessário repensar os desafios da liberdade e da igualdade, hoje. A tarefa é urgente. Estão a esgotar-se as actuais fórmulas que garantem a coesão social e a nossa liberdade.
As práticas e sistemas que levaram a igualdade para o igualitarismo falharam. A afirmação pessoal e a criatividade foram prejudicadas em benefício de um suposto bem geral e colectivo. Os modelos de livre afirmação da iniciativa, de per si, onde os mais aptos ou a quem a sorte e o engenho bafejou vencem, leva a concentrações de poder que colocam a liberdade dos demais em risco. Dois modelos políticos, sociais e económicos que geram contradições intrínsecas à própria liberdade e à igualdade.
A liberdade e a igualdade formais e legais não impedem que quem tem muito potencie a acumulação, nem permitem a quem tem pouco quebrar o ciclo da exclusão.
Há que recentrar as atenções e acções dos políticos novamente no sujeito, potenciando pontos de acesso adequados ao pleno aperfeiçoamento de cada um.
E há que assentar no desenvolvimento de algumas potencialidades individuais essenciais para travar o colapso do actual modelo social. Garantir uma infância que fortaleça a personalidade e que estimule a autoconfiança e a felicidade. Criar um sistema educacional, público e privado, aberto e integral, que garanta a todos os conhecimentos teóricos e práticos essenciais para a vida. A par da educação andarão a saúde e outras condições básicas de vida, se quisermos, a materialização de condições necessárias à fruição de liberdades parcelares vitais a cada ser humano.
A imaginação dos actores políticos deve concentrar os seus esforços para que a sucessão de gerações aconteça tranquilamente.
Ao Estado caberá olhar para cada cidadão com “especial consideração e respeito”.
Os valores da liberdade e da igualdade devem ser estendidos a todos os cantos do Globo, elevando níveis de rendimento, de educação, de saúde pública, de informação, de liberdade, entre outros bens, com o fito da Grande Liberdade. Há que aproveitar a globalização - e a por vezes dolorosa deslocalização de empresas para países de mão-de-obra intensiva e menos qualificada - tirando partido da elevação dos rendimentos que ela traduz. O que funcionará, contraditoriamente com a maximização do lucro e dos mercados, como rastilho para novos padrões de exigência e obrigará os governos desses países a mudar as suas políticas.
Quer isto dizer que “É importante que as vidas humanas sejam sucedidas e não desperdiçadas, o que é igualmente importante para qualquer vida humana – é o princípio da igual importância; por outro lado, é a responsabilidade especial e final nesse mesmo sucesso da pessoa cuja vida está em causa – o princípio da especial responsabilidade. É urgente a
“ intervenção do governo na adopção de leis e políticas que asseguram (tanto quanto possível) que os cidadãos e os seus percursos pessoais são “insensíveis” ao seu passado económico, familiar, género, raça ou qualquer particular capacidade; que este mesmo governo trabalhe, tanto quanto possível, para fazer com que os seus cidadãos sejam “sensíveis” às escolhas que eles próprios fizeram.”, como referiu Conde Rodrigues, socorrendo-se da ideias de Dworkin( Ronald), durante uma reflexão que fez, no Clube Lusitânia, na semana passada.
Conde Rodrigues aponta o que pensa ser a essência do fortalecimento da democracia: “A igual consideração que referimos acaba por espelhar esta vontade de reconhecimento e a valorização das políticas sociais que incluam, sem diluir, que emancipem sem desresponsabilizar, políticas que sejam o verdadeiro nó górdio da vida em democracia.
Mas essa igualdade não pode ser apenas a dos direitos e oportunidades, ou ainda o decréscimo das clássicas diferenças sociais e consequente redistribuição dos recursos materiais ou imateriais. A igualdade deve assentar em comunidades fortes, na integração em espaços cívicos que respeitem a dignidade do outro, garantindo-lhe autonomia, mas simultaneamente exigentes na responsabilidade comum.”
Foi bom participar nesta reflexão, com pessoas das mais diversas áreas políticas, profissões e géneros. Foi bom constatar que o politólogo e o anterior orador de outra sessão do Clube, Carolino Monteiro, especialista em genética, partindo de ciências diferentes, confirmaram a individualidade de cada ser e a necessidade da possível adequação das políticas das acções às condições de cada um.
Sendo iguais enquanto homens, somos diferentes enquanto individualidade. A ciência política e a genética de acordo, rumo a uma sociedade mais justa.

Nota: Para consultar na íntegra a recente intervenção de Conde Rodrigues, “Democracia e Igualdade, Hoje.”, basta solicitar a mesma via e-mail.

Que chatice, um boato


Ando a pensar como vos posso falar dessa coisa estranha que é o boato. Começo este artigo sem saber por onde devo começar. Talvez lembrar a história de uma criança que foi picada por uma serpente quando mexia nas bananas expostas nas bancas de um hipermercado.

Um boato com barbas e clássico. Lá está a angelical
criança, as bananas, fruto oriundo de um país africano ou da América Latina e, a vítima do boato, um hipermercado. Mais elucidativo é falar na doença mortal atribuída a François Miterrand, no auge da sua carreira ou a uma conhecida cantora francesa. Entre nós recordo, no Verão, a célebre onda que iria varrer o Algarve do mapa e que fez entrar em pânico tanta gente.
O boato é assim. Corre rápido. E anda mais rápido quanta mais verosimilhança ele consegue aparentar. Ele existe porque tem valor para quem o transmite. Não interessa se é verdadeiro ou não. Ele ganha foros de notícia. Muitas vezes os órgãos de comunicação social amplificam e aumentam o seu raio de acção.
Partilhar um boato dá estatuto a quem o divulga. O transmissor mostra estar na posse de uma informação importante. Outras vezes escuda-se no diz-se, diz-se, da comunidade, do grupo, e divulga o dito.
O boato nasce, cresce e vive de forma mais ou menos irregular. Enquanto mantiver a sua utilidade, valor e novidade progride sem parar. Quando começa a ser esmiuçado, se alguém pára para aferir dos seus elementos constituintes e dos factos em que pretensamente se ancora, começa a perder embalagem. Muitas vezes morre. Mas pode ressuscitar em tempo oportuno. O boato corre. A sua velocidade é susceptível de ser aferida. Ele pode ser fruto de uma informação mal percebida e distorcida ou ser voluntariamente criado com fins políticos, económicos ou de diversa ordem. Umas vezes resulta, outra é um nado-morto. Lidar com os boatos requer perícia, sangue-frio, ciência e bom-senso. Ele pode ser travado. Os seus efeitos podem ser minimizados. Virar-lhe as costas pode provocar sérios danos na reputação de pessoas, organizações ou produtos.
“Ele é o mais antigo dos mass media. Existe antes da escrita, quando o que se dizia de boca em boca era o único canal de comunicação.”* Um boato é uma informação noticiosa, não verificada, transmitida por boca ou amplificada pelos media. Actualmente a Internet é um óptimo veículo de transporte do mesmo.
Há locais propícios à sua propagação. Os sítios onde se reúnem grupos de pessoas, uma comunidade religiosa, uma praça, um agrupamento desportivo, uma organização política. A credibilidade de quem o difunde é um factor importante. Se quem me diz que determinada pessoa é isto ou aquilo for alguém que reputamos idóneo, com créditos aparentes na veracidade de informações anteriormente transmitidas, a informação contida no boato ganha mais consistência e leva-nos, num primeiro momento, a dispensarmos a confirmação dos elementos do mesmo.
Se nos disserem que a existência de jacarés nos esgotos de Nova Iorque, facto derivado ao facto de um detentor desses bichos se ter fartado deles e os ter enfiado pela sanita abaixo, permitindo a sua multiplicação sem controlo, quase que compramos a ideia. O mesmo se nos dissessem que uma associação de defesa das espécies teria lançado cobras de avião sobre uma determinada região para combater uma praga de outros animais, tal nos pareceria possível e aceitaríamos que a multiplicação das ditas estaria a provocar uma invasão de cobras numa povoação vizinha do local. Só que, quando paramos para pensar, verificaremos que as pobres das cobras se teriam esmagado ao embater no chão, quando lançadas de tal altitude.
Uma teoria dos boatos terá de abarcar aspectos como a natureza do boato, comportamento e ciclo de vida do mesmo, origem, meios de divulgação, velocidade de difusão, neutralização e estratégias de combate e comportamento face aos mesmos. Confesso que não é um tema fácil. Que se confunde com a notícia, com os rumores e mexericos. Mas é uma necessidade estar preparado para agir quando eles surgirem.
O meu primeiro encontro profissional com um boato, conhecido de todos, foi quando trabalhava a imagem da McDonald’s. Tive de levar os jornalistas a verificarem ao vivo, em Paris, que os hambúrgueres eram feitos de carne de vaca e não de minhoca, e segundo elevados padrões de qualidade e higiene. Até porque a carne de minhoca seria muito mais cara.
Eles são na sua maioria falsos. Mas não necessariamente, podem ter fundamento. Podem magoar. E já mataram. Outras vezes, se bem enquadrados, podem até dar o resultado inverso do que pretendem os seus autores. “As convicções íntimas que movimentam os povos partem frequentemente de meras palavras.”* Podemos chamar-lhe de fé, onde assenta o saber social.

Alô… Quem fala?

Estou em Nova Iorque, telefono para uma companhia aérea e faço a reserva das passagens, pagando-as com o cartão de crédito. Do lado de lá atende-me uma simpática voz de senhora que percebo ter idade avançada. Tratou rapidamente de corresponder ao meu pedido. Quando me dirigia para o aeroporto paro num McDonald’s, entro no “drive-in”, e sou atendido por uma central telefónica onde uma voz jovial recebe o meu pedido. Mais à frente recebo a comida e as bebidas pedidas, sem demora. Distribuída a comida às crianças dentro do carro, arranco para o aeroporto, perdendo-me no caminho. Ligo para as informações de trânsito e peço ajuda. Um jovem simpático, com um sotaque característico, ajuda-me a encontrar o caminho certo. Chegado ao aeroporto, enquanto espero pela hora de embarque, falo com o meu contabilista em Portugal sobre o preenchimento de formulários fiscais. Acertamos os pormenores e ele fica de me enviar os mesmos documentos contabilísticos no dia seguinte, tarefa que solicita a um seu colaborador via e-mail.
Cheguei finalmente ao meu primeiro destino, Madrid, mas uma das minhas malas não chega. Ligo, aflito para a assistência, onde uma jovem me atende e pede os dados informativos. Estranho mais uma vez o ligeiro sotaque, mas ela consegue ajudar-me e informa-me que a mala foi extraviada, mas que será entregue no Hotel.
O que há de novo nestes procedimentos normais? Apenas o facto da minha reserva ter sido feita por uma simpática dona de casa americana, reformada, a trabalhar no seu escritório em casa, no estado de Utah. Simplesmente o facto do pedido das refeições do restaurante ter sido processado por uma jovem a alguns quilómetros do restaurante. Unicamente porque o auxílio de trânsito me foi prestado por um jovem indiano, a trabalhar na Índia. Somente porque o preenchimento burocrático dos meus impressos contabilísticos estarem a ser feitos por um colaborador indiano, a trabalhar em Bangalore, na Índia, ficando o meu consultor financeiro com mais tempo para lidar com os clientes e acrescentar valor à sua prestação de serviços. Porque, a mala extraviada foi resgatada e reencaminhada para a minha posse por uma simpática jovem indiana contratada pela companhia aérea, mas a trabalhar na Índia. E o mesmo se poderia suceder se um atelier de arquitectura japonês subcontratasse o desenho técnico de esquiços de uma moradia a arquitectos ou desenhadores técnicos chineses e recebesse os mesmos, no prazo combinado, no regresso do mail, por Internet.
Esta ficção que recriei já é a realidade para muitos cidadãos. Pois é, este mundo está a virar-se de pernas para o ar. Nada é como era. A queda do muro de Berlim e dos vários muros, a introdução dos PC e da Internet, a digitalização e as auto-estradas de alta velocidade criadas com as fibras ópticas permitem a desmaterialização e a deslocalização dos processos produtivos de produtos e serviços para onde se possa fazer bem, diria igual, rápido e barato.
Nesta encruzilhada em que nos encontramos como podem os países e a regiões ultraperiféricas encontrar um ponto de apoio na plataforma comum da sociedade global?
É um desafio. É sim. Mas pode ser uma oportunidade magistral se percebermos a essência da nova economia, se percebermos em que fase dos processos produtivos da sociedade do conhecimento poderemos intervir com valor acrescentado para quem compra e benefícios para quem presta.
É um admirável mundo novo que se abre. Um mundo que em breve, amanhã, melhor, hoje, terá de encontrar novas formas de funcionamento da economia sem petróleo – há quem vaticine o fim das reservas a 40-50 anos – com escassez de água potável. Um cocktail que abrirá novos paradigmas económicos, políticos e sociais.
Precisamos de um choque, de energia, que nos faça engrenar de vez neste mundo complexo mas mais aberto e dialogante. Numa próxima crónica voltarei ao tema, mas numa perspectiva de desenvolvimento pessoal. Entretanto, se puderem leiam: “O Mundo é Plano. Uma história breve do século XXI, de Thomas L. Friedman. E compreendam como é o futuro.

Podem cair vacas do céu


Autárquicas 2005

Começa a ficar claro que estas autárquicas podem não correr muito bem ao Partido Socialista. Não tenho dúvidas de que são um patamar, ainda que não decisivo, para
a afirmação da liderança de Marques Mendes. A CDU terá de fazer das tripas coração para estancar o voto útil no PS em algumas localidades e manter a chama acendida por Jerónimo de Sousa. O Bloco de Esquerda continuará a sua progressão ascendente, atraindo jovens e algumas franjas urbanas. O CDS/PP marcará presença. O Governo continuará a governar, sem poder pensar no problema dos seus correligionários de partido que concorrem às autárquicas. O sentido de Estado e a situação do País não se compadecem com cedências eleitoralistas, e os portugueses não perdoariam a Sócrates.

Para além dos erros óbvios e evidentes já cometidos pelo Partido Socialista na escolha de alguns candidatos, alguns deles de palmatória, e irremediáveis do meu ponto de vista, resta agora aos partidos a boa ou má gestão das expectativas.

Quem perder Lisboa, Porto e Coimbra dificilmente conseguirá afirmar uma vitória, ainda que tenha mais votos. Esta realidade será mais dura para o PS. Já Marques Mendes tem maior campo de manobra: pode ganhar, ganhando as principais cidades, e pode ganhar, garantindo o maior número de câmaras e a liderança da Associação Nacional de Municípios.

A gestão das expectativas é o trunfo para maximizar bons resultados ou para minimizar os possíveis estragos eleitorais. E é neste particular que não se percebe como o PS ainda não conseguiu encontrar um caminho mobilizador para as autárquicas, principalmente nos principais símbolos eleitorais. A noite eleitoral vai ter vários vencedores, se houver uma boa gestão de objectivos e expectativas.

Enquanto nos Açores, em Ponta Delgada, Berta Cabral poderá continuar a sua caminhada de forma descansada; já na Madeira, o Funchal será palco de mais um teste à consolidação ou não de uma alternativa ao poder de Alberto João Jardim. Veremos.

Agora, não dá para entender como é que o PS, com uma direcção forte, não conseguiu influenciar a ida de pesos pesados, de políticos capazes, para as candidaturas de algumas câmaras vitais. Causa alguma estranheza. Falo de Oeiras, de Cascais, de Ponta Delgada. Como não se entende que tendo o PS, à partida, garantida a vitória em Lisboa e no Porto, com a escolha inadequada de candidatos, tenha entregue os pontos ao adversário, facilitando-lhes a vida.
Resta estar atento ao embate eleitoral que vai ocorrer em terras do Alentejo, onde PS e CDU vão disputar de forma acesa alguns bastiões dos comunistas. Ali, o voto útil pode ceifar algumas câmaras à CDU, não obstante o trabalho meritório de algumas equipas daquela coligação.

Depois das eleições autárquicas, se o PSD passar o teste, Cavaco Silva continuará a sua caminhada para as Presidenciais, inexplicavelmente sem a oposição credível de um candidato da área do PS, que mais uma vez parece estar de braços caídos, permitindo com a vitória de Cavaco Silva, que Marques Mendes se afirme como uma verdadeira alternativa ao poder socialista.

Realmente há comportamentos que contrariam a lógica normal das coisas. Mas há sempre um lado positivo quando as coisas não correm bem para um dos lados: o País tem um Governo com todas as condições para durar a legislatura, o PSD não merece sofrer novo revés eleitoral e ficar mais fraco, sob pena de não termos uma oposição com ânimo para construir uma alternativa no seu devido tempo. E nunca podemos esquecer que estamos a falar de diferentes planos de combate político nas autárquicas, nas presidenciais e nas legislativas.
Há dias e tempos assim, de mentes confusas e má sorte, como os que passa o PS em tempo de autárquicas. Que o diga uma amiga dos Açores, que, atónita, viu aterrar uma vaca em cima do seu carro quando, descansada, conduzia a sua viatura, e, como se não bastasse, perdeu o telemóvel numa pastagem, durante o Rallye dos Açores. Lado positivo, o dito não ter começado a tocar na pança do bovino, e ter sido devolvido por um simpático agricultor, para que ela regressasse ao stress da sociedade da informação.

Ele é fixe, tem bom gene.


O que está dar é ter bom gene. E os portugueses de génio já lhe fizeram jus quando lançaram caravelas, desbravaram mares e encontraram terras e povos. Foram os genes, o engenho e o génio a trabalhar em conjunto, a interagirem, que permitiram tal coisa.
Mas, no presente, temos também, novos descobridores, novos viajantes, que sulcam mares de futuro e de modernidade. São portugueses sim senhor. Navegam espaços contidos na imensidão de um código genético e procuram explicações para a vida, para os comportamentos, para as doenças, para o bom desempenho do homem. É uma nova fronteira do conhecimento, que alicia mas ao mesmo tempo desafia e arrepia. A genética e o estudo dos genes pode ajudar-nos a fortalecer a cidadania, a ultrapassarmos alguns dos nossos obstáculos ao salto em frente.

Vejamos o que retive da lição que o Professor Carolino Monteiro transmitiu, esta semana, na tertúlia de amigos do Clube Lusitânia.

Cuidado com as noções simplistas de Liberdade e de Igualdade. Meter 28 alunos, crianças, numa sala de aulas e ensinar-lhes exactamente a mesma coisa, ao mesmo tempo, com a mesma metodologia, exigindo padrões de resultado iguais, é uma falsa igualdade. O estudo da combinação genética demonstra que uns apreendem mais depressa que outros, que outros memorizam mais facilmente que uns e, por aí fora, outros falam e exprimem-se mais facilmente que os seus colegas. O mesmo se poderia aplicar para outras aptidões como a resistência à doença, a destreza manual.
Isto significa que o primeiro absurdo é haver um professor para 28 alunos. O segundo, é nivelar todos pelo padrão de aprendizagem instituído. A lição que o professor tira de genética aplicada à cidadania é que chegou a altura de adequar o ensino e a avaliação ao destinatário, se visarmos o aperfeiçoamento de cada um. E deu o exemplo das turmas de 9 crianças na Dinamarca, e que têm dentista na escola. Por tanto, todos iguais, todos diferentes.

Mas, Carolino Monteiro, explica que a genética também nos alerta para o facto de que a mesma aspirina não ser sempre a solução ideal para a cura de uma dor de cabeça em todas as pessoas. Cada ser humano tem capacidades e necessidades de doses diferentes da mesma aspirina. Os genes e o organismo são os culpados da situação.

Isto quer dizer que entrámos no patamar da qualidade, em que a imaginação terá de conciliar o exequível para servir 10 milhões de portugueses, sem esquecer que cada português tem uma especificidade própria, que tem de ser potenciada.

Já agora, a genética permite-nos perceber o impacto dos movimentos migratórios dos povos e a herança genética que fica. Porque nascem novamente crianças com sífilis em Portugal? Qual o impacto do facto de na Costa da Caparica já existirem cerca de 6000 brasileiros? Que em determinada localidade do Japão, nascem crianças com uma doença oriunda de determinada região de Portugal, quando afinal só lá viveu um padre jesuíta.
Estamos a falar de multiculturalidade e diversidade, e das respostas que as políticas têm de saber dar a pessoas tão diversas, que carregam heranças genéticas tão diversificadas, por forma a tiramos o maior rendimento e bem estar da cada individuo.
O perigo é se o génio pensa que o paraíso está ali ao virar da esquina e que, com alguns toques genéticos julgamos poder criar super-homens, mais aptos e resistentes para determinadas actividades.
A vida é um bela sinfonia. A orquestra tem de ser observada com cuidado para que as afinações pretendidas não nos levem ao inferno em vez de aumentarem a qualidade de vida de todos nós. A utopia da raça pura. Onde está ela? A miragem de conquistar a vida eterna levam-nos para a linha de uma nova fronteira. Mas a necessidade de aperfeiçoar o homem. A obrigação de combater as desigualdades que resultam da doença e da fome obrigam-nos a agir depressa.
E Carolino Monteiro inverte os termos e diz que o combate da pobreza começa na prevenção da doença e na acção sobre a saúde das pessoas. Boa saúde induz melhor aproveitamento a todos os níveis e o bom desempenho propicia resultados conducentes à diminuição da pobreza.

É claro que aos políticos cabe integrar estes conhecimentos, criar as condições de comunicação inter-ciências, para que, hoje já, estes conhecimentos melhorem a nossa qualidade de vida. E já agora, parte do conhecimento mais avançado sobre esta matéria está na posse de portugueses, cidadãos do mundo. Será que Portugal sabe disso?
Ainda falta mais um choque em Portugal. O choque genético.
Já agora, quando lhe disserem que é um nabo, ou que é burro, não se ofenda, pois não é totalmente mentira, atendendo ao património genético que temos em comum.

Uns são mais livres do que outros


Agora dou mais valor aos meus tempos de criança, em que passava os dias a nadar, ora no alto-mar ou na Baía, numa espécie de lago que enformava a casa dos meus pais. Jogava à bola, andava de carrinhos de madeira com rolamentos, construía papagaios em papel de seda, que alteava nos terrenos salgados dos mangais. Estragava sapatos e calças, construía casas no cimo das árvores. Algumas vezes, com a rapaziada do bairro, fazíamos incursões por um rio próximo, onde apanhávamos peixes de água doce, de todas as cores, para os nossos aquários.
De noite, corríamos pelos muros e quintais, brincávamos aos polícias e ladrões. Havia lugar para o teatro de sombras, em caixas de madeira, as festas… Era um tempo que parecia sem limites. Afinal, era apenas a liberdade da nossa infância e juventude. Com o tempo percebi, que de entre os amigos do futebol do bairro, e que apesar de todos andarmos descalços, uns eram mais livres que outros. Entendi que havia algumas diferenças marcadas pela cor da pele.
Há 30 anos, a liberdade foi sinónimo da explosão de possibilidades. A utopia igualitária conquistou o País por instantes. Foi bonito.
Mas a realidade, agora que estudamos e observamos os fenómenos sociais, e que já estamos noutro patamar de consciência e de exigência, obriga-nos a olhar com outros olhos para estes aspectos.

A liberdade que mais interessa a todos já não é apenas a liberdade política. Tomamos consciência que a nossa liberdade começa a ser afirmada ou contrariada com as melhores ou piores condições de vida dos nossos pais. Não duvidamos que a qualidade da maternidade e da infância vão ditar um papel importante sobre a nossa liberdade. O maior grau de cuidados de saúde, a educação, a alimentação equilibrada, o acesso à cultura extracurricular é ingredientes fundamentais da nossa liberdade futura.
A liberdade e as liberdades que a integram começam hoje a ser colocadas em risco a partir do momento em que temos sectores da população juvenil que estão fora dos cuidados primários de saúde, que abandonam prematuramente as escolas ou que, embora possa frequentar a escola, não acede ao mesmo padrão e nível de ensino que o poder de compra de outros permite aceder. É esta injustiça que está no âmago do nosso atraso, em que há escolas que por regra fazem ministros, gestores, investigadores, directores, no fundo criam as elites, e outras que despejam gente mal preparada, a caminho do desemprego, da frustração e da exclusão do sistema.
E mesmo que o Estado e as entidades competentes tudo fizessem para assegurar os mínimos para a formação de elites nas suas escolas, ainda assim teríamos o factor das redes sociais e familiares a contrariarem esse esforço. Mas cada português teria mais meios de defender-se, de se afirmar na sociedade e no mercado.
Esta tema vem a propósito de um encontro privado que mantive, no Domingo passado, com o líder de um dos grandes partidos dos Palops. Após ter ouvido as suas primeiras respostas às minhas questões percebi quão longe andam as necessidades dos povos africanos em termos de liberdades. Este dirigente e amigo tem de conciliar actividade política com preocupações tão primárias como garantir que a família a ou de b tenha um funeral condigno para um seu ente falecido. O pensamento dele não está totalmente virado para o exercício da política. Ele vê a sua liberdade constrangida pela necessidade de sobreviver dos seus, pela ameaça sobre a segurança pessoal de cada um. Nós por cá debatemos a qualidade do ensino, da economia, da saúde.
Enquanto aqui tentamos reforçar as causas concorrentes para uma maior liberdade, no país africano do meu amigo a liberdade é uma palavra sem conteúdo e vazia. Esvaziada pela corrupção, pela fome, pela mão forte de um poder de legitimidade duvidosa. Ali não se opta nem se podem tomar livremente opções, sejam elas políticas ou individuais.
Como são boas as minhas imperfeitas liberdades, quando comparadas com as do Sul.

O presente pode estar envenenado.


Há presentes que aliviam a má consciência, apaziguam as almas, e até dão jeito aos beneficiados mais directos. Fazem-me lembrar o avarento, que se farta de fazer patifarias diariamente ao seu semelhante e que, ao avistar um pedinte de mão estendida, logo mete a mão à algibeira e, pela frincha aberta da janela do carro ou à porta da Igreja, deposita cuidadosamente, com os dedos em pinça, a moedinha que lhe há-de comprar o perdão de mais um dia recheado de pecados. É uma acção calmante, um sedativo. Do outro lado, o personagem, necessitado ou não, agradece e entra no jogo. Todos sabemos que o lugar de um mendigo à porta de uma igreja, de uma conhecida ourivesaria ou de uma pastelaria bem frequentada tem um preço de mercado e é um couto de caça privado. Os seus proprietários são mestres na arte de tirar partido das más consciências dos que por ali passam.
Os países ricos perdoaram as dívidas aos chamados países pobres. Um gesto bonito. É uma reivindicação antiga, legítima, até diria necessária e devida. A legitimidade advém até da natureza e das causas das mesmas. A necessidade resulta da tomada de consciência da impossibilidade prática de solver as mesmas, do sentido prático do sistema capitalista e da urgência em aliviar as culpas no cartório. As causas podem remeter para a herança cultural, política, económica e social transmitidas aos devedores.
Recordo-me que há alguns anos entrava em Portugal uma conhecida cadeia multinacional de lojas de venda de brinquedos. Os estudos diziam que as casas portuguesas estavam atoladas de brinquedos e que havia saturação e falta de espaço para que os pais pudessem comprar mais brinquedos aos seus filhos. Dei por mim, juntamente com um especialista em distribuição, a procurar a solução conjuntural. E ela veio: simples, altruísta, misericordiosa, bondosa. Estava na altura de lançar uma campanha nacional de recolha e oferta de brinquedos usados às crianças mais necessitadas. O problema da falta de espaço para mais brinquedos novos estava resolvido. O negócio podia continuar.

Este perdão por si só não chega. Há que fazer algo mais. Exigências concretas de boa governação dos Estados. Criação de uma consciência universal, de uma carta com dez simples mandamentos que estanquem a hemorrogia de vidas, da riqueza e matérias primas dos países ditos pobres. Chegamos ao problema e alicerce fundamental da resolução das causas dos problemas de qualquer país. As liberdades devem ser um valor a defender pela comunidade internacional. A liberdade materializa-se desde que os cidadãos nascem até que morrem. São os direitos à saúde, a uma infância saudável, o direito à educação, o direito ao trabalho, os direitos políticos, a livre opinião, a igualdade de oportunidades. É o combate ao racismo, ao tribalismo. É o combate à corrupção e depauperação das receitas da venda de matérias-primas. São os direitos de respeito das condições aceitáveis e mínimas de prestação do trabalho. Ou seria a condenação de actividades poluidoras do planeta, a proibição da venda de produtos produzidos em condições sub-humanas. Já não falo na limitação a montante do comércio de armas e artefactos militares para fins que não sejam de salvaguarda da ordem pública ou de defesa das fronteiras. Aliás, em simultâneo, ficámos a saber que o Reino Unido é um dos maiores vendedores de artefactos de guerra para esses países…

Hoje já todos percebemos que os males dos nossos vizinhos mais pobres, as doenças, a fome, a corrupção, a instabilidade afecta a todos. O Mundo encurtou, as influências negativas sentem-se mais rapidamente e ninguém está imune à contaminação. Problemas locais são cada vez mais doenças globais.
Chegou o tempo de passarmos à fase do pensamento lateral e de começar a procurar soluções mais ambiciosas e mais sustentáveis para a espécie humana e para a boa convivência entre os povos. E já agora, que o perdão se converta em mais liberdades, mais saúde, mais educação, mais oportunidades para os cidadãos daqueles países. O que está muito longe de suceder.

Ando de cabeça perdida

Por razões de ofício vou contactando pelo País fora com diversos políticos, de diversas formações partidárias. As eleições autárquicas estão à porta, as máquinas começam a aquecer os motores, as apresentações de candidatos vão-se sucedendo.

_Ó meu amigo, estamos prontos para trabalhar e começar a campanha_ afirmam uns, decididos.

Muito bem_ respondo eu.

_ Sabe, já tenho umas fotografias tiradas e podemos começar_ dizem-me eles, convictos.

Ainda bem_ respondo eu.

_Mas diga-me lá uma coisa: em que ponto estamos nós?

_ Está tudo pronto, já tenho as fotografias.

_ E o diagnóstico?

_ O quê?

_ Já temos uma frase e umas pessoas amigas, um rapaz e uma rapariga com muito jeitinho para desenhar, fizeram o meu primeiro cartaz.
(Ainda pensei em agradecer a reunião, levantar-me e ir embora…mas voltei à carga)
_ Pois muito bem… Mas diga-me lá, já fizeram o diagnóstico da situação? Há algum estudo de opinião.
_ Ainda não está pronto mas está a ser feito.

_ Olhe caro amigo, não seria melhor aguardar mais uns dias pelo resultado das sondagens para fazer depois a estratégia e os cartazes em conformidade?

_Pois é?


_Já percebi, passemos à frente. Corrigiremos a situação mais à frente. Já agora vamos tomar algumas medidas e minimizar algum eventual efeito negativo do cartaz.


Outra história.

Antes do fim do ano fui chamado a uma reunião com o presidente de uma câmara no Norte do País para avaliar o potencial da sua recandidatura. Marcada a reunião, vencida a batalha do diagnóstico, tirada a ferros a sondagem, analisada a imprensa, conhecido o terreno, o potencial cliente e a força política que representava estava à frente na sondagem.
Ele lá fez um esforço e recebeu-me no seu gabinete, explicando-me que tem feito umas coisas de comunicação: um site na Internet, uma revista super luxuosa, quase erudita.

Adverti-o para o perigo da candidatura que se perfilhava como opositora. Mediática, populista, com todos os ingredientes para chamar a atenção dos cidadãos habituados há 30 anos a ver a cara do actual presidente.

A receita foi simples: antecipe-se, fixe o seu eleitorado, lidere a comunicação, comece já e aproveite a época natalícia para iniciar o contacto com os seus eleitores.

O tempo passou, nada feito, a não ser a apropriação pelo seu assessor de uma ideia deixada no ar, mas que aplicada de forma desgarrada de nada serve. E a realidade entretanto mudou. O adversário hoje está a liderar isolado os estudos de opinião e paralisou os adversários, quer na oposição quer no poder.


É assim a realidade dos nossos políticos, sejam eles autarcas experimentados, sejam ex-ministros, sejam novatos, independentemente dos partidos que representam.

A nossa classe política ainda não percebeu que a comunicação política é um instrumento continuado de diálogo entre governantes e governados.

Mas há alguns sinais positivos de mudança de atitude. Participei nas últimas semanas na formação de jovens políticos em gestão autárquica, com sessões intensas, de quatro horas por módulo, que abordaram gestão urbanística, gestão financeira, marketing e comunicação política, entre outras matérias. Foi ministrada por mim e por professores da Universidade de Coimbra, sob a égide da Fundação Bissaya Barreto. Foram dois dias, de manhã à noite, bastante intensos. As turmas estavam repletas do princípio ao fim, com cerca de 100 assistentes.

Disse-lhes que este era um passo importante para a sua formação política. Lembrei-lhes que quanto mais preparados estivessem maior vantagem teriam em relação aos seus concorrentes. E caracterizei-os como uma elite em formação, com ambição e necessidade de muito trabalho.
Para meu espanto, no encerramento, efectuado por um representante nacional da organização política, pertencente à nova geração de políticos em ascensão, uma mensagem mais dura e realista foi-lhes deixada.
_ Meus amigos, vocês têm de ser uma elite, têm de ter qualidade e devem aplicar-se nos estudos e na escola para serem os melhores. E, se numa mesma data tiverem uma acção política e um exame escolar, não hesitem, preparem-se, estudem, não vão à acção política e façam os exames. Quando chegar o momento nós escolheremos os melhores, os mais bem preparados e não aqueles que se arrastam simplesmente pelas sedes, pelos comícios. O partido e o País vão seleccionar os melhores.

Valha-nos este político que teve a coragem de não só fomentar a formação como de dizer, olhos nos olhos aos jovens políticos, que o cartão de militante já não é um passaporte, por si só, para um futuro risonho na política.

E deixei-lhes a resposta de Mark Spitz, 55 anos, o maior nadador de todos os tempos, recordista de 6 medalhas de ouro obtidas numa só Olimpíada, em Munique, 1972, quando lhe perguntaram a razão do seu sucesso, numa entrevista publicada pela VISÃO:
“Sempre tive grandes treinadores. Foram eles que soltaram o meu talento. Depois, eu tinha um desejo dos diabos de ganhar!
Trabalhava que me fartava.”

A escolha é sua.

Certo dia, na antiguidade, Sócrates, o filósofo, acompanhava uma comitiva que visitava o estaleiro de uma obra. Este viu um homem vergado sobre um monte de pedras e perguntou-lhe: o que estás a fazer, meu amigo? O homem, com o semblante pesado e cabisbaixo, respondeu-lhe num tom seco e desanimado _ estou a partir pedra, meu senhor. A comitiva avançou e, mais à frente, Sócrates abeirou-se de um outro homem, um pouco mais enérgico e interessado, e repetiu a pergunta. A resposta, mais solta, veio de imediato _estou a fazer paralelepípedos. Muito bem, retorquiu o filósofo. Por fim, a comitiva acercou-se de um homem sorridente, que os cumprimentou a todos e que, entusiasmado, partia também pedra. Então, Sócrates, intrigado, lançou a pergunta sacramental: O que fazes? _ Estou a construir um monumento. Sócrates e a comitiva despediram-se do homem e lá foram ver o monumento que estava a ser erguido.
A lição que fica é que três homens que faziam a mesma tarefa, partir pedra, tinham um estado de espírito e de motivação diferente. Se para uns a sua tarefa diária era uma chatice, resumindo-se a partir pedra atrás de pedra, para outro o trabalho já fazia mais sentido e estava a transformar a pedra bruta em paralelos, dando-lhe forma. Por fim, o último, estava a participar na construção de um monumento, motivado, sabendo a finalidade do seu esforço.
Muitas vezes passamos os nossos dias a partir pedra, em tarefas que julgamos monótonas e sem sentido.
O que os portugueses precisam é de um projecto que lhes dê sentido à vida. Há um monumento que precisa de ser construído novamente, onde deve existir um lugar digno para todos e onde todos se sintam parte.
O sucesso dos projectos políticos reside na capacidade dos líderes conseguirem sintetizar essa ideia mobilizadora e envolverem todos os cidadãos, nas suas diversas ocupações e capacidades para a concretização de um projecto comum.
No meio empresarial diz-se que é preciso definir uma missão, em conjunto com os que integram a organização, e transmiti-la para dentro e para fora do território da empresa. Nas sociedades políticas, nos Estados, é necessário criar objectivos claros, um programa, uma bandeira, com princípios, objectivos, metas e benefícios que nos levem a todos a entrar no barco e a remar para o mesmo lado.
Mas não basta que exista apenas uma Missão. Nem são suficientes apenas um conjunto de políticas e objectivos claros. Há um trabalho diário, rigoroso, descendente e ascendente, de cima para baixo e de baixo para cima, que mantenha a equipa motivada e sem perder de vista o essencial: a construção do monumento.
É aqui, mais uma vez, que entra o papel instrumental da comunicação. Nas empresas comunicação interna e externa, dita comunicação empresarial. Nos Estados, a comunicação política, dirigida e adequada aos cidadãos: funcionários, utentes, políticos, eleitores, munícipes, fregueses.
E para que tudo funcione, tanto nas empresas como nas organizações políticas, os líderes têm de liderar, de dar o exemplo. Apenas se exige deles determinação, liderança e coerência entre o discurso e a acção.
Vamos lá senhor Sócrates - o primeiro-ministro - os portugueses estão de mangas arregaçadas. Até agora temos gostado de ouvir o seu silêncio. Mas não nos deixe adormecer.

Nota: Para Marques Mendes a tarefa é igualmente trabalhosa. Juntar e apanhar os cacos, colocá-los à porta da São Caetano, à Lapa, e, com uma nova equipa e novas ideias, construir um projecto para o PSD, que mobilize os social-democratas e consiga a médio prazo ganhar a confiança do País. O mesmo se passará, de forma mais ou menos genuína, com o CDS/PP. Veremos se Sócrates, Mendes, Jerónimo e Louçã conseguem, apesar de tudo o que os separa, colocar os portugueses a remar para o mesmo lado. Porque já chega de partir pedra.

Temos de ganhar altitude

Gostaria que conseguíssemos voltar a olhar para a vida com alegria, com mais esperança e determinação. Que saltássemos do carril em que nos movemos e víssemos os nossos problemas de um novo ângulo, com uma nova perspectiva. Porque não vale de nada continuar a cavar um sulco maior na tentativa vã de andar para trás e para a frente, a repisar nos erros do passado. É que o passado já lá vai. É a história que nos serve para aprender e para nos dar ensinamentos para agarrar o futuro.

Todos conhecemos histórias de pessoas que pegaram em minas de ouro abandonadas, porque supostamente não davam para mais nada, e das escórias e do suposto lixo fizeram o ouro voltar a brilhar e ficaram bem na vida. Já ouvimos falar na história do homem que ia ao lixo dos hospitais recolher radiografias velhas e inutilizadas, transformando-as e extraindo a prata., criando um novo negócio.
Quem diria que o lixo das nossas casas e das cidades seria uma fonte de riqueza, um negócio e uma matéria-prima para a produção de energia, de adubos, apto para a reciclagem e transformação dos seus componentes em produtos úteis e valiosos?
E os exemplos poderiam estender-se a empresas que nada valiam nas mãos de uns e passaram a ser rentáveis nas mãos de outros.
Posso ainda referir as mudanças estratégicas operadas em alguns países nos últimos cinquenta anos e que demonstram que é possível encontrar sempre uma saída, um novo valor, uma nova maneira de encarar as adversidades na vida dos países.

Conhecendo as nossas características. Aceitando o País como ele é. O que falta fazer é encontrar na nossa condição e no País que somos aquilo que pode produzir valor acrescentado, emprego, competitividade, riqueza e bem-estar para todos os que nele vivem.

Feito o diagnóstico, conhecidas as causas dos estrangulamentos, há que copiar as águias, ganhar altitude para ver mais longe e assomarmos mais alto para ganharmos outra atitude.

Acredito que é possível trabalhar já as novas gerações para que cheguem ao mercado de trabalho global mais preparadas, com armas iguais aos seus concorrentes mais próximos e mais distantes. Simultaneamente há que pegar nos que ainda têm muito para dar e ajudá-los a reapetrecharem-se intelectual e tecnicamente naqueles aspectos básicos que lhes permitam continuar a serem pessoas úteis e activas. Por fim, como não podemos deitar as pessoas que sobram para debaixo do tapete, há que cuidar dos que nos transmitiram o testemunho para que vivam condignamente, participantes e activos.

Se as florestas precisam de vigilância para prevenir incêndios essa tarefa pode ser desempenhada por pessoas capazes de aprender noções básicas de prevenção e de operar um sistema elementar de alerta. O mesmo se passa quanto a algumas operações de limpeza. Seria uma forma de aproveitar pessoas ainda válidas, que assim ajudariam a preservar as nossas paisagens e floresta auferindo uma remuneração importante para o seu dia a dia. Já não falo dos benefícios para a saúde que advêm do exercício físico e do trabalho ao ar livre. Mas, o mesmo juízo pode ser aplicado em actividades dos mais idosos relacionadas com a infância, com as informações aos cidadãos, etc.

Estou a pensar num País a recuperar com o concurso de várias equipas, de diversos escalões de cidadãos. Os escalões altamente preparados e dotados, de ponta, a criar valor na ciência, no meio empresarial, a incrementar exportações de bens e serviços. Os escalões de infantis e juniores a serem preparados para a entrada na alta competição da vida, a nível comportamental, com programas escolares e extracurriculares, focados naquilo que interessa a nível global e local. Os escalão dos “activos”, empenhados a operar as mudanças possíveis para ultrapassar a inércia, a burocracia, o faz de conta, o conformismo. E por fim, para que isto tudo resulte, os eleitos, a elite, os visionários e dirigentes políticos a verem mais longe, a traçarem os rumos certos e a galvanizarem todos para a tarefa de colocar Portugal, em 10 anos, outra vez a sorrir e satisfeito consigo próprio.
Não acredito que o progresso e a mudança apenas se consigam com sofrimento, com amargura, com o fado, com sacrifícios que rapidamente redundam em mais sacrifícios
A preparação e o estudo exigem esforço e dedicação. Sem dúvida. Mas também exigem novos métodos e novas formas de motivação. A economia exige poupança e investimento, mas também precisa de ser mais justa na distribuição dos resultados, do topo até à base. O bem-estar e a qualidade de vida não são apenas a capacidade de possuir bens de luxo, carros, casas, mas há que apreciar novos parâmetros de qualidade de vida e bem estar mais ligados os desfrute da cultura, da natureza, do conforto real, do bom ambiente, da comida saudável, do acesso aos cuidados de saúde de qualidade…
Há que ganhar altitude e uma nova atitude para encarar novas formas de nos realizarmos fora dos sempre iguais carris do supérfluo e do efémero, alheados de outros bens igualmente valiosos mas que passaram para segundo plano.

Eu acredito nos portugueses e na capacidade de transformarmos o Cabo das Tormentas em Cabo Boa Esperança.

No fundo temos saber transformar o resultado dos nossos esforços em bens mais úteis ao mundo. E tudo o que é útil tem valor. Afinal de contas esta gesta pressupõe a mudança de comportamentos e a afirmação de novas atitudes.

É preciso ganhar altitude para mudar a atitude.